Existe um pedaço do Leste Europeu em São Paulo. A Vila Zelina, bairro próximo ao Cemitério da Vila Alpina, na Zona Leste, completa 85 anos hoje, dia 27 de outubro. Durante a semana, os moradores comemoraram com quermesses, apresentações folclóricas, muita comida típica e até um concurso, que elegeu Fernanda Paulin Martin como “Miss Vila Zelina 2012”.
Até 1927, a região era chamada de Baixos do Embaúba. As terras pertenciam ao comerciante Cláudio Monteiro Soares Filho. No dia 27 de outubro daquele ano, Soares Filho delegou ao recém-chegado imigrante russo Carlos Corkisco a tarefa de lotear e vender terrenos. Fluente em idiomas como russo, lituano e polonês, o comerciante foi até a Hospedaria dos Imigrantes, na Mooca, para convencer os novos compatriotas a habitar o novo bairro.
Os imigrantes vindos do leste europeu passaram a se concentrar na região, principalmente na época da Segunda Guerra Mundial. O resultado é que, como afirmam com orgulho os lituanos da Zona Leste, a Vila Zelina concentra a segunda maior colônia lituana do mundo – perdendo apenas para Chicago, nos Estados Unidos.
O centro do bairro é a Praça República Lituana, na qual fica a paróquia de São José de Vila Zelina. A igreja católica, construída pelos próprios imigrantes em um terreno doado por Soares Filho, foi fundada em 1936. Até hoje, há uma missa especial em lituano todo domingo, às 11h. Como, atualmente, não há mais padres que saibam celebrar a missa no idioma, foi encontrada uma solução curiosa. O sacerdote diz sua parte em português, enquanto os fiéis respondem em lituano. As músicas também são cantadas em língua estrangeira e podem ser acompanhadas em um folheto especial que é distribuído nas cerimônias. “Até quando Dom Edmar Peron, bispo da região, vem celebrar missas comemorativas aqui, a tradição é mantida”, diz Sandra Mikalauskas, neta de lituanos, sempre morou no bairro.
Sandra é responsável pelo grupo de dança folclórica Rambynas, criado em 1997. O Rambynas participou de festivais internacionais de dança nos Estados Unidos e na própria Lituânia. “É uma tradição desses países fazer um festival nacional de grupos folclóricos a cada quatro anos”, conta. “Mas os eventos aconteceram nos Estados Unidos enquanto a Lituânia estava ocupada.” Em 1998, já com a independência consolidada, o país voltou a fazer festivais.
As comemorações pelos 85 anos da Vila Zelina prometem se estender. Demetrio Dimitrov, descendente de búlgaros, russos e ucranianos, é vice-presidente da Associação de Moradores e Comerciantes do Bairro de Vila Zelina (Amoviza). Ele conta que as feiras de cultura tradicional e artesanato passarão a ser mensais no ano que vem. “Queremos mostrar a cultura do bairro para mais pessoas”, diz.
Enquanto o público espera pelas quermesses mensais, o Blog do Curiocidade preparou um roteiro de endereços para quem quiser conhecer a cultura do leste europeu enquanto passeia pela Vila Zelina:
Bar do Vito
Foi fundado em 1942 por Vitaustas Tunnelis, o Vito. Desde 2005, pertence a Aurélio José Gringonis. Além de cervejas lituanas, a casa serve quitutes como a koseliena (R$ 13), geleia à base de carne feita pela própria mãe de Gringonis e consumida com pão. Av. Zelina, 851, 2341-6994
Delícias Mil
Alana Trinkunas Dzigan, a proprietária, é filha de lituanos. Na rotisserie, ela prepara kugelis (R$ 30, o quilo), torta de batata, bacon e cebola, prato bastante típico do país. A própria Alana fabrica krupnikas, licor de mel tradicional da Lituânia. R. Monsenhor Pio Ragazinkas, 17, 2341-3371
Gandras Alus
Neto de lituanos, Rogério Sventkauskas produz cervejas artesanais ao estilo baltic porter, comum em países como Lituânia, Estônia e Rússia. Também elabora uma bebida bem diferente: a Duonos Gira, conhecida pelos russos como Kvass. Feita a partir de pão preto fermentado e água, ela tem teor alcoólico entre 0,5 e 2%.
gandras.alus@yahoo.com.br
Grupo Volga
Fundado em 1981, reúne crianças e adolescentes de famílias russas. Participam de eventos da comunidade, como jantares beneficentes, fazendo apresentações de coral e danças folclóricas e coral típicos da Rússia. 2341-4657 e www.grupovolga.com.br
Grupo Rambynas
Foi criado por Sandra Mikalauskas, neta de lituanos, em 1997 e já se apresentou em eventos internacionais – até mesmo na Lituânia. É procurado por jovens descendentes deste povo, já que seu objetivo é difundir as danças folclóricas do Leste Europeu. 2341-3542 e rambynas@bol.com.br
Irene Czuczman
Filha de ucranianos, ela faz sob encomenda o varenyky, quitute semelhante a um pastel, com massa de batata e recheio de queijo. O prato vem congelado para o cliente prepará-lo em casa. Cada pacote de um quilo (R$ 25) tem cerca de 20 unidades. 2216-6945
Janete Zizas
A artesã dá aulas de pintura de ovos de páscoa lituanos, que são ovos de galinha tingidos usando cera de abelha. O pincel é um pequeno alfinete pregado em um lápis. Além de cursos, ela vende objetos decorativos e bonecas com roupas típicas do Leste Europeu. R. Barão do Piraí, 240, 2341-0840
Paróquia São José de Vila Zelina
Construída pela comunidade católica do bairro em 1936. Às 11h da manhã de domingo, é realizada tradicionalmente uma missa com música e folhetos em lituano. Pça. República Lituana, s/nº
Santa Coxinha
Pelo nome, o lugar não parece ser dedicado aos descendentes de imigrantes. E não é mesmo. Mas o cardápio da loja tem dois itens em homenagem ao bairro. A coxinha Zelina (R$ 5,40) é feita de carne moída e pepino azedo, enquanto o sanduíche Big Zelina (R$ 14,90) leva dois hambúrgueres, queijo e pepino azedo. Pça. República Lituana, 73, 2345-4249
Slavian Tours
Agência de turismo carioca especializada em Leste Europeu. A franquia na Vila Zelina é comandada por Simone Polgrymas, descendente de russos, e está no bairro há três anos. O pacote mais vendido é o que contempla Moscou e São Petersburgo, mas há diversas opções de roteiros nos Países Bálticos, Polônia e Ucrânia. R. das Giestas, 966, 2341-6965.
(Com colaboração de Míriam Castro e foto de Agliberto Lima/AE)
Moro em Campos do Jordão e aqui tem algumas familias de lituanos, inclusive meu sogro, Jonas Talaisys, ajudou na construção da Igreja de São José
Meu caro Marcelo, seu olho clínico sobre as cidades é incrível quando se revela. Não esqueço suas andanças em Londres. Parabéns! Aproveito para dizer que o “Loucos” de hoje, da ESPN, estava muito bom e o Peninha é uma “figura”.
Parabens pela materia, porem e importante mencionar os demais contatos de artesanato e gastronomia das demais comunidades de imigrantes do leste europeu que compoem a Vila Zelina como seguem a seguir : RUSSIA – ARTESANATO – SIMONE POLGRYMAS – TEL.: 23413108 – R.BARAO DE JUPARANA, 381 – VILA ZELINA – e-mail: simvicgers@uol.com.br;RUSSIA – CULINARIA TIPICA – DEMETRIO DIMITROV – TEL.: 23414657 – R. DAS GIESTAS, 966 – e-mail: consultali@uol.com.br;
RUSSIA – AGENCIA DE TURISMO ESPECIALIZADA NO LESTE EUROPEU – SLAVIAN TOURS – TEL.: 23416965 – R. DAS GIESTAS, 966 – e-mail: saopaulo@slaviantours.com.br,RUSSIA – DANÇA FOCLORICA, CORAL E MUSICOS – ASSOCIACAO CULTURAL GRUPO VOLGA DE FOCLORE RUSSO – TEL.: 23414657 – R. DAS GIESTAS , 966 – e-mail:grupovolga@grupovolga.com.br – Site: http://www.grupovolga.com.br ;UCRANIA – ARTESANATO – MARU KUZIZ MARTINUCCI – TEL.: 42388300 / 99530979 – e-mail: marusi@uol.com.br,
UCRANIA – CULINARIA – IRENE – TEL.: 22166945 – marusi@uol.com.br,
BULGARIA – CULINARIA – ECKHARD – TEL.: 84331015;BULGARIA – CULINARIA & ARTESANATO – KATIA PASLAR / SONIA DIMOV – TEL.: 50510703 – e-mail: katia.paslar@hotmail.com
As proximas feiras tematicas de artesanato e culinaria tipica acontecerao no horario das 10 as 16h na rua Mns Pio Ragazinskas no dia 9 de Dezembro e darao sequencia no ano que vem a aprtir de Marco com frequencia mensal. Nao serao quermesses com fora descrito.
Atenciosamente,
Victor Gers Jr.
Faltou a foto da Miss
Excelente! Acho, apenas, q faltou falar da padaria do Lg S. José… Ela (ainda) tem um pão lituano ótimo!
Ô Cidade rica esta em que vivemos!
Sou descendente de lituanos e moro no bairro desde que nasci – sempre ouvi e li nos principais jornais de São Paulo tanto quanto em revistas e alguns jornais de bairro da região e já há muito tempo – que a impresa em geral sempre tratou a Vila Zelina como Bairro lituano e não do Leste Europeu – e de fato ele o é um bairro muito lituano sim… Podemos dizer que não há rua no nosso bairro que não tenha pelo menos uma família lituana morando. Se procura-mos até no arquivo antigo (dos anos 70 aos 2000) – impresso deste proprio jornal ( O estadão) se pode achar várias matérias referentes da Vila Zelina como bairro lituano. A presença de imigrantes lituanos é muito marcante e muito significativa desde o começo da formação deste bairro – claro os outros povos do Leste Europeu também fazem parte, mas não tem tanta expressão. No bairro temos 2 grupos de dança lituanos, um coral lituano, uma revista informativa da comunidade lituana editada no bairro, A Paroquia de São José fundada pelos lituanos e um colégio de ensino fundamental e medio (Colegio São miguel Arcanjo) fundado por irmãs americanas lituanas há 60 anos. Há também a praça República lituana com um monumento no centro, replica de um monumento que atualmente se encontra na cidade de Kaunas na Lituania. Essa foto da matéria, que é da igreja lituana de São JOsé de Vila Zelina. – Ela foi inaugurada em 1936 – quando não havia nenhuma outra construção ou casa no bairro. A paróquia de Vila Zelina já prestava serviço aos imigrantes lituanos antes mesmo das construções das primeiras moradias do bairro e é um marco ). Ela tem uma cruz de madeira típica lituana que decora a fachada de entrada. São estas, algumas entre outras coisas, que marcam de modo muito significativo a presença lituana neste pedaço da cidade de São Paulo.
De acordo com o senso histórico documental preliminar de nossos historiadores residentes no bairro e do privilégio de termos os depoimentos da “história viva” de Vila Zelina, a Sra. Elena Tumenas, hoje com 87 anos , moradora do bairro, sobrinha do Sr. Carlos Corkisko, descendente de russos, loteador das terras da família Monteiro Soares naquela época , que em Outubro de 1927 , onde já haviam várias residências e comércios na região, em nomearam esta Vila com o nome de sua filha “Zelina”. Considerando a imparcialidade dos fatos históricos , além do grande empreendedorismo da comunidade lituana muito importante para o bairro, o que deu visibilidade à sua comunidade devido a sua concentração pontual, não só na Vila Zelina como na Móoca, a Vila Zelina teve de fato uma colonização mista , onde além de lituanos, russos, búlgaros e poloneses, colonizaram-na predominantemente também comunidades de ucranianos, húngaros, croatas (Iugoslavos), tchecos, eslovenos, letos e estonianos. Elena Tumenas conta que na esquina da Av. Zelina com Rua Barão de Juparaná, já havia uma Igreja Ortodoxa Russa, e atualmente ainda temos a Igreja Batista Boas Novas fundada por famílias russas. Tem também a Igreja “Assembléia de Deus Russa” onde uma das famílias fundadoras é a célebre família Minczuk, do famoso maestro Roberto Minczuk. Nas adjacências temos uma Igreja Católica Ucraniana e, Igrejas Ortodoxas Russas. Naquela época, rezavam-se também cerimônias no idioma húngaro na Vila. Esta diversidade leste européia , única, harmoniosa, deu origem a este aspecto cultural forte, até hoje perpetuado pelos seus descendentes e simpatizantes destas ricas culturas e tradições.
Aviso aos navegantes: A Lituania fica no centro geográfico da Europa, não ao Leste. Consultem os estudiosos de Geografia.
Sou descendente de lituanos e sei que a Lituania não é um paísdo leste Europeu, mas da Europa central que não tem nada a ver com a cultura eslava, mas sim é um pais de origem báltica, com um idioma e cultura prórios e muito diferente. Realmente a Lituania era o centro geográfico da Europa a bem pouco tempo. E infelizmente soube que recentemente, existem vários países que pleiteam esse posto, de centro geografico da Europa. Cada um desses países tenta com os seus argumentos e as suas formas prórias de estudo geográfico mostrar as suas razões. E até hoje não se chegou a um entendimento correto sobre o assunto. Por isso atualmente poderiamos dizer que não há uma definição oficial. Basta fazer uma pesquisa e ver. Mesmo na Lituania, os estudiosos já afirmam que oficalmente estão para perder esse posto. Mas tomara que isso não aconteça.
Na Europa como na Ásia, existem as teorias técnicas do posicionamento geográfico de alguns países que até os dias de hoje ainda concorrem e reinvidicam o seu reconhecimento como centro geográfico no seu continente. No caso da Europa, existem mais de dez países que vem reividicando esta posição há anos entre eles Alemanha, Áustria, Bielorrússia, Lituânia, Eslováquia, Eslovênia, República Tcheca e Ucrânia. Se considerarmos o raciocínio técnico e a exatidão catedrática poderíamos também dizer de que a Rússia não seria exclusivamente do leste europeu mas euroasiática devido a sua extensão geográfica. Porém, acreditamos que o mais importante, neste processo de valorização dos aspectos culturais fortes das comunidades de imigrantes dos europeus do leste de um Bairro é a valorização de suas culturas e tradições criando um projeto de sustentabilidade social, cultural, econômica e ambiental abrindo e oferendo ao público sua gastronomia e arte possibilitando a o acesso a estas culturas pouco conhecidas e harmoniosamente presentes em uma Vila da cosmopolita cidade de São Paulo.