Dependendo de sua idade, talvez você nunca tenha experimentado sagu. Tem gente que nem sabe o que é. Tanto que a sobremesa que adoçou a vida de tantas gerações hoje é presença cada vez mais rara nos cardápios dos restaurantes paulistanos. Comi toneladas de sagu de vinho tinto na minha infância. Minha mãe usava o vinho em garrafões que meu avô vendia. Era uma sobremesa muito comum, que acabou sucumbindo à invasão de bolos, brigadeiros, tortas e sorvetes nas últimas décadas. Ainda assim, remando contra a maré, alguns lugares na cidade ainda preservam a tradição do sagu e fazem dela um diferencial para atrair a clientela. O melhor que provei nos últimos tempos está, acredite, na Pizzaria Margherita, localizada na Alameda Tietê, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Quem teve a ideia foi Antônio Carlos de Toledo, o “Esquerda”, ex-jogador do time do São Paulo e proprietário da casa: “O doce fez parte da minha infância e da infância de muitos dos meus clientes”, confirma o empresário de 71 anos. “Como todos os doces que faço aqui, é uma produção artesanal e que não exagera no açúcar. Ele precisa ser adocicado, mas sem exageros”, ensina como atiçar a memória afetiva dos clientes.
Ele conta que a sobremesa faz enorme sucesso e raramente é pedida por alguém que tenha menos que 40 anos. “O que acontece muitas vezes é vir uma família grande, com várias gerações, e o mais velho pedir o sagu. Aí a molecada experimenta e adora! Da segunda vez, os jovens acabam pedindo também”, festeja. No Margherita, dá para dividir seguramente a taça de sagu em duas ou três pessoas.
A chef e nutricionista Neka Barreto tem outra teoria para o sucesso do sagu. Na Neka Gastronomia, empresa especializada em bufês de festas, a sobremesa é bastante requisitada, sobretudo por quem tem raízes gaúchas: “Quem comeu sagu quando criança irá comer para sempre. Não vejo muita relação com a idade, mas sim com a origem. Aqui fazemos as bolinhas coloridas de acordo com o sabor e faz sucesso”, afirma. Certa vez, experimentei um sagu de coco maravilhoso que Neka servia em seus restaurantes.
“O processo de transformação da mandioca em bolinhas foi obra desenvolvida pelos descendentes alemães da empresa Lorenz, em Indaial, Santa Catarina, no início do século XX”, descobriu a pesquisadora Rosana Peccini. A Lorenz foi a primeira indústria de fécula de mandioca da América Latina. O produto foi criado para substituir a fécula de batata, que vinha da Europa e que estava em falta no mercado por causa da Primeira Guerra Mundial. Em pouco tempo, outras empresas começaram a comercializar o sagu, casos da também catarinense Cassava e depois da Corsetti, na região de Caxias do Sul-RS. O sagu de vinho tinto logo caiu no gosto dos imigrantes italianos do Rio Grande do Sul e virou um doce tradicional da Serra Gaúcha.