Se a Santa Ifigênia é conhecida como “Rua dos Eletrônicos”, a vizinha General Osório é a “Rua do Samba”. Também na região da Luz, ela é sede de estabelecimentos dedicados à venda de instrumentos de percussão. Caixas, surdos, repiniques e agogôs são procurados pelas baterias de escolas de samba paulistanas. Agora, à véspera do Carnaval, o movimento é constante. “A maioria das escolas compra os instrumentos com antecedência, mas sempre tem gente que vem na última hora”, diz Ronaldo Gabriel, gerente da loja Redenção.
Os endereços do samba em São Paulo se concentram em um quarteirão de cerca de 100 metros, entre a Rua do Triunfo e a Rua dos Andradas. No caminho para a Rua Santa Ifigênia, aumenta a frequência de lojas de aparelhos de som e eletrônicos. Depois de cruzar o famoso centro de comércio, a General Osório passa a ser conhecida por outro apelido, “Rua das Motos”, devido à quantidade de estabelecimentos dedicados à venda de motocicletas e acessórios.
O local mais famoso e tradicional da região é a Contemporânea, inaugurada em 1948 por Miguel Fasanelli. Os instrumentos da marca abastecem até escolas de samba cariocas, como Mangueira e Unidos da Tijuca. Esta semana, a Contemporânea recebeu a visita de Mestre Tadeu, que em 2012 completa 39 anos no comando da bateria da Vai-Vai, atual campeã do Carnaval de São Paulo. “Na General Osório, dá para achar tudo relacionado a samba”, diz o sambista. “Todo mundo desse universo vem para cá nesta época”.
Na Contemporânea, também começou o projeto Rua do Samba Paulista, uma grande roda de samba que serve para divulgar a história da cultura do samba local. Os mentores do evento são os paulistanos Edson Roberto, Mestre Paulo, Roberto Oliveira e Tadeu Augusto Matheus, o sambista T-Kaçula. Ele conta que, em novembro de 2002, uma das rodas realizadas na Contemporânea ficou tão grande que teve que ser expandida para a rua. “Eu mesmo bloqueei o tráfego com meu carro e tomamos a General Osório”, diz.
Até 2008, o encontro continuou a acontecer na Rua General Osório durante o último sábado de cada mês. “Naquele ano, a Prefeitura nos transferiu para o Bulevar São João sob o pretexto de reformar o local anterior”, conta o sambista. “A reforma acabou em 2009, mas nunca pudemos voltar à General Osório”. Atualmente, o evento reúne cerca de seis mil pessoas e conta com uma estrutura de banheiros químicos e aparelhos de som.
Se o Projeto Rua do Samba não está mais na General Osório, ela não deixou de ser a Rua do Samba. Confira abaixo os endereços mais bambas da Santa Ifigênia dos batuques:
Contemporânea
Inaugurada em 1948 por Miguel Fasanelli, o “Seu Miguel”, a Contemporânea começou como uma oficina de conserto de instrumentos de sopro. Como tinha muitos amigos que tocavam chorinho e samba, Miguel começou a elaborar instrumentos que pudessem ser usados nesses gêneros de música. Desde 1985, a fábrica da Contemporânea foi para o Cambuci, mas a loja continua, firme e forte, na General Osório. Quem comanda o estabelecimento hoje é Sérgio Guariglia, que trabalha lá desde os 13 anos de idade. Ele mantém a tradição de 38 anos da roda de choro e samba de raiz que acontece na loja a partir das 9h da manhã aos sábados. Uma sala com capacidade para 120 pessoas é sede do evento, que já atraiu artistas como Zeca Pagodinho e Jair Rodrigues.
R. General Osório, 46, 3221-8477
Redenção
Surgiu quando a General Osório já era um ponto de encontro dos sambistas. A maior parte do público é de baterias de escola de samba e grupos de pagode, mas também há violões, flautas e violoncelos. Ronaldo Gabriel, gerente da loja, trabalha lá desde a inauguração, em 1998. Ele destaca o serviço de preparo de peles animais para o uso em instrumentos.
R. General Osório, 25, 3331-2804
GPMusical
A loja pertence à família de Humberto Henrique Rodella, que em 1962 fundou a marca GOPE de instrumentos de percussão. Enquanto a fábrica fica em Embu-Guaçu, a loja na General Osório é o principal endereço para comprar seus produtos. O carro-chefe da GPMusical é o pandeiro GOPE, que sai a partir de R$ 190,00.
R. General Osório, 62, 3222-0184
JVR Premier
José Valderi Gouveia Amorim e seus dois sócios compraram há cinco anos o Premier, que estava fechado depois da morte do antigo proprietário. Decidiram manter a tradição da roda de samba, que acontece duas vezes por semana. Às sextas, o evento é um happy hour a partir das 18h. No sábado, o samba começa assim que o da Contemporânea termina, por volta das 16h.
R. General Osório, 41, 3337-5127
J. Guerra
A lanchonete na esquina da General Osório com a Rua dos Andradas marca o limite da Rua do Samba. Aos sábados, o espaço do restaurante não é suficiente para sediar a roda de samba, que invade a calçada e, de acordo com o proprietário, Marcos Vinícios Rodrigues do Nascimento, atrai até quem só está passando por ali.
Rua dos Andradas, 498, 3221-2850
Zebrinha
Com este nome, era de se esperar que as paredes fossem brancas e pretas, não amarelas. Mas o casarão é inteiro pintado desta cor, rendendo ao bar o apelido de “Amarelinho”. Na esquina da General Osório com a Rua do Triunfo, o boteco tem rodas de choro e samba durante as tardes de sábado.
R. do Triunfo, 307, 3337-7163
(Com colaboração de Míriam Castro)
Caro Marcelo Duarte,
Gostaria de contribui para um melhor refinamento da informação: o Projeto Rua do Samba Paulista não teve início na Loja de Instrumentos Contemporânea. Havia de fato uma Roda de Samba realizada pelo Projeto Cultural Samba Autêntico que, naquele período, era realizado em frente à supracitada loja. Em geral essa atividade era encerrada por volta das 13h00, momento de encerramento das atividades comerciais, quando a loja cerrava suas portas.
Por conta disso, esse grupo de pessoas – Edson Roberto, Paulo Roberto, Roberto de Oliveira e Tadeu Augusto – após o sucesso de um primeiro projeto denominado “Samba e Cidadania”, resolveu e idealizou a proposta do Proj. Rua do Samba Paulista. Convidou um grupo de pessoas e representantes de movimentos sócio-culturais, como o Projeto Nosso Samba de Osasco, o Clube dos Sambistas e a UNEGRO – União de Negros pela Igualdade/SP , uma organização do movimento negro, a realizar o Projeto Rua do Samba Paulista. Posteriormente e com o passar do tempo, uma parte desses envolvidos foram se distanciando do projeto, indo cuidar de suas iniciativas, ficando – até hoje – o núcleo idealizador, formado pela atual coordenação.