“Ei, Talita Eymael/É 27.000/Pra vereadora, vamos com Talita Eymael/Por meu São Paulo e por meu Brasil/Vamos votar 27.000/Talita, a democrata cristã”.

A melodia do jingle da candidata à vereadora pelo PSDC, Talita Eymael, é uma velha conhecida. O sobrenome, também. Ambos são herdados do avô, José Maria Eymael, o homem que foi candidato a presidente da República quatro vezes e a prefeito de São Paulo outras quatro vezes. Não esteve nem perto de ser eleito (embora tenha dois mandatos como deputado federal) em nenhuma dessas tentativas, mas virou uma figura cult da política brasileira por causa da música-chiclete “Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão”.

Afastado das disputas eleitorais em 2016 (embora esteja percorrendo o Brasil todo para apoiar os candidatos do partido que preside), o fundador do Partido da Social Democracia Cristã agora é representado por Talita, que pela segunda vez tenta uma cadeira na Câmara dos Vereadores da Cidade de São Paulo. Da primeira vez, em 2008, ela, então com 22 anos, renunciou à candidatura durante a campanha. “Eu era muito nova e não estava preparada”, explica a candidata. “Agora, com 30 anos, me sinto pronta”.

Talita Eymael discursa durante passeata em São Mateus, na Zona Leste

Talita Eymael discursa durante passeata em São Mateus, na Zona Leste

Psicóloga, Talita Eymael Latães voltou ao cenário político a pedido do avô: “Há dois anos, eu aceitei o convite para ser presidente do PSDC Jovem e agora sou candidata”, afirma. As empreitadas políticas de José Maria Eymael fazem parte das lembranças de Talita: “Quando ele foi eleito deputado federal, eu ainda era um bebê e andei no Gurgel que ele usava para sair pelas ruas em campanha”, recorda. “A família sempre o apoiou muito. Minha mãe trabalhava aqui no PSDC e foi assim que eu entrei para a política”.

Segundo ela, as pessoas vêm recebendo bem a candidatura: “Como sou jovem, apareço como uma oportunidade de renovação”, acredita. A experiência como psicóloga e mãe é uma das bandeiras que Talita levanta para mostrar que sabe das necessidades do eleitor na área da educação.

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Ela sabe que a luta pela cobiçada cadeira na Câmara é difícil. Em 2012, o avô teve 5.382 votos na disputa para a Prefeitura. Ainda que herde todos esses eleitores, Talita não conseguiria se eleger. O vereador eleito com a menor votação na última eleição (Toninho Vespoli, do PSOL) recebeu 9.782 votos. Por isso, é preciso correr atrás de mais votos: “Meu foco tem sido às Zonas Sul e Oeste”, conta.

Para ajudar na campanha, o bom e velho jingle tem sua utilidade. A letra precisou ser alterada para se enquadrar ao novo nome e também ao cargo de vereador. O responsável pela adaptação foi José Raimundo de Castro, o alfaiate de José Maria Eymael que compôs em 1985 a música que até hoje é um dos mais lembrados pelos eleitores. “Pra mim é uma honra herdar o jingle do meu vô”, finaliza Talita.

Outro candidato pitoresco que conta com a família para manter acesa a chama de seus ideais políticos é Levy Fidelix. Duas vezes candidato a presidente, duas vezes candidato a governador de São Paulo, três vezes candidato a deputado federal por São Paulo, uma vez candidato a vereador por São Paulo e pela quarta vez candidato a prefeito da cidade, o presidente do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro nunca se elegeu a nada e agora tem na filha Lívia Fidelix a maior parceira de campanha. Nas palavras dela própria, trata-se da filha que “mais puxou a veia política do pai”. Ao contrário dos outros dois irmãos, ela foi a única que se interessou pelo assunto. Começou como repórter em pequenos programas jornalísticos produzidos pelo partido e, dali, se tornou candidata. “Meu pai nunca forçou nada”, garante. Lívia Maria Rodrigues Fidelix da Cruz é formada em Administração.

Livia e o pai, Levy Fidelix: "Nossas ideias caminham juntas"

Livia e o pai, Levy Fidelix: “Nossas ideias caminham juntas”

Lívia tenta uma cadeira na Câmara dos Vereadores pela segunda vez. Na primeira, em 2012, teve inexpressivos 2.175 votos e passou longe de se eleger e até mesmo de receber o apoio integral do eleitorado do pai, que teve 19.800 votos na eleição para prefeito. “Fui candidata de última hora”, justifica-se. “Nem pensava nisso e acabei fazendo tudo no improviso, sem muito tempo”. Dois anos depois, Lívia fez nova tentativa e tentou se eleger deputada estadual. Apesar dos 139.206 votos que Levy Fidelix recebeu no Estado de São Paulo como candidato à presidência, ela também não foi bem sucedida. Recebeu apenas 11.681 votos, enquanto a deputada eleita com menor votação (Clélia Gomes, do PHS) teve 25.306. Segundo Lívia, nesse caso o problema foi outro: “Embora a candidatura tenha sido bem planejada, meu pai era candidato a presidente e não podia estar comigo na maior parte do tempo. Isso atrapalhou bastante”.

Agora, tentando conquistar os mesmos eleitores, pai e filha podem andar juntos pelas ruas da cidade buscando, pela primeira vez, quebrar o tabu e colocar a família Fidelix em um cargo eletivo: “Nosso planejamento dentro do PRTB é eleger pelo menos dois vereadores”, sonha Lívia. Uma meta ousada para um partido cujo candidato não atinge 1% das intenções de voto para a prefeitura segundo as pesquisas do Ibope e do Datafolha: “Ficamos surpresos com essas pesquisas porque não é o que ouvimos na rua. O que ouvimos é que o povo cansou dos mesmos”, pondera Lívia. Segundo a candidata, o partido tem apostado nessa campanha na rua e nas redes sociais para superar o pouco tempo no horário eleitoral e a ausência nos debates por conta da nova Lei Eleitoral, que restringe aos partidos com mais de 10 deputados federais a presença.

Entre as plataformas de campanha da herdeira do aerotrem, ela aponta uma maior participação dos jovens na política: “O jovem não costuma ter credibilidade, mas ele pode ser formador de opinião sim. Minhas ideias caminham juntas com as do meu pai, mas eu sou de uma nova geração e quero representar os jovens. Nosso projeto para a cidade é amplo”, promete. De um assunto, porém, ela se esquiva: os homossexuais. Em 2014, o pai causou indignação em grande parte do eleitorado ao responder a uma pergunta da candidata Luciana Genro (PSOL) no debate da TV Record. Ele se referiu aos homossexuais como “uma minoria que deve ser combatida e tratada no plano psicológico bem longe da maioria”. A resposta lhe rendeu uma multa aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral e muitas críticas. Para Lívia, o assunto é irrelevante e o pai foi mal interpretado: “Não tem porque falar disso. Aqui no PRTB nem pensamos nisso. Meu pai deu a opinião dele, como todo candidato deve fazer, e não quis ser preconceituoso. Levaram uma questão muito íntima para um debate e criaram uma repercussão em torno disso que não se justifica. Nós pensamos em projetos para todos”, finaliza.

(com reportagem de Leonardo Dahi)