O que você está pensando em fazer às 6 da manhã deste domingo? Cesar De Ranieri, proprietário do pub neozelandês Kia Ora, no Itaim-Bibi, tem um convite: assistir à final da Copa do Mundo de Rúgbi entre França e Nova Zelândia. Quem é louco para acordar tão cedo em um final de semana para ver um jogo de rúgbi? Pois Cesar garante que o esporte, apesar de não ser tão popular ainda no Brasil, tem fãs suficientes para encher o bar, com cinco telões e capacidade para 450 pessoas. “Esperamos casa cheia”, empolga-se.
Cesar foi jogador de rúgbi por 17 anos, sendo 10 deles na Seleção Brasileira. Aliás, o pub nasceu por causa do esporte – Cesar conheceu o neozelandês Mark Hindmarsh, que também foi jogador, em um treino da extinta equipe Alphaville. Ficaram amigos e, mais tarde, em 2004, abriram o negócio. Em entrevista ao Blog do Curiocidade, Cesar falou sobre os preparativos para o evento de domingo, que será disputado justamente na Nova Zelândia, e comentou o crescimento do rúgbi no Brasil.
O Brasil já tem cerca de 200 times de rúgbi em 22 Estados. Dá para dizer que o rúgbi vai se tornar um esporte popular daqui a alguns anos?
O rúgbi vem crescendo de uma forma bem gradativa por aqui. Há dois anos, ele se tornou esporte olímpico e passou a ter um incentivo do governo. Isso acaba atraindo o interesse de algumas empresas privadas e impulsiona o esporte. Quando você parte de uma plataforma insignificante, dois ou três times a mais já significam um aumento importante. Mas o esporte vem crescendo, sim. Ainda não dá pra comparar com o vôlei, por exemplo. Estamos a anos-luz de nos tornarmos populares como o vôlei. Mas podemos dizer que o rúgbi já começou a se tornar um pouco menos desconhecido.
Que lembranças você tem dos tempos em que jogava na Seleção Brasileira?
Era uma outra época. Era o paitrocínio que rolava na minha época. Os jogadores tinham que bancar tudo – uniformes, bolas e viagens. Era muito legal. Eu perdia dias de trabalho, faltava em provas da faculdade, tudo para disputar um torneio. O esporte vinha em primeiro lugar. Deixava família, trabalho, estudos em segundo plano. Perdi até um estágio porque faltei para jogar.
E como era o desempenho da Seleção na época?
Era fraco. Não costumávamos vencer. No começo, o rúgbi atuava na primeira divisão sul-americana. Jogávamos contra seleções como Argentina e Uruguai, que tinham o nível muito acima do nosso. No começo dos anos 2000, houve uma separação. Os primeiros times da América do Sul ficaram na Divisão A, e os outros foram para a Divisão B, que foi o nosso caso. Na Divisão B, nós tivemos um certo destaque. Foi uma forma de tentar nivelar. Antes, alguns times tomavam surras de mais de 100 pontos.
Você ainda joga?
Não, não dá mais. Já estou com 37 anos. É um esporte muito viril, precisa ter uma força física muito grande. Se eu jogasse uma partida, eu precisaria de um mês para me recuperar.
A final da Copa do Mundo será às 6 da manhã no domingo. Você não tem medo de abrir o pub e não aparecer ninguém para assistir à partida?
Não. Na última Copa, também exibimos a final e o bar lotou. Tudo bem que era à tarde, a questão do horário interfere um pouco. Mas esperamos para esse jogo casa cheia também. O torcedor de verdade sempre vai dar um jeito de ver o jogo com os amigos.
O horário permite servir cerveja?
Claro. O bar vai estar aberto normalmente, com todo o cardápio. Mas a gente fez também um café da manhã para incluir nesse evento.
É a primeira vez que o Kia Ora serve café da manhã?
É a primeira e espero que seja a última. Não dá para contar para os meus amigos que eu ganho dinheiro vendendo café da manhã. Vão dizer que eu deveria abrir uma padaria (risos). Mas o café da manhã é apenas um serviço. O pessoal vem disposto a beber cerveja mesmo.
Serviço:
Rua Dr. Eduardo de Souza Aranha, 377, Itaim-Bibi
Tel. 3846-8300
(Com colaboração de Karina Trevizan e foto de divulgação)