Quando completou 9 anos, Bernardo Wu ganhou as primeiras caixinhas com aviões de plástico para pintar e montar.  “Resolvi descobrir a história daqueles modelos e depois me interessei pela história da guerra”, conta o carioca de descendência chinesa.  O pequeno Bernardo passou a juntar tudo o que ganhava para comprar livros sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e hoje, aos 61 anos, tem uma coleção com aproximadamente 500 títulos. “O Grande Circo”, escrito pelo piloto francês Pierre Clostermann, em 1966, e comprado com três anos de economias foi sua primeira aquisição. “Só eu mexo nas coleções porque sei exatamente a ordem dos livros”, avisa.

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Bernardo Wu coleciona livros sobre a Segunda Guerra Mundial desde os 9 anos de idade

“O mais impressionante não é só a quantidade de livros guardados, mas saber que ele já leu tudo isso”, diz a mulher, Miriam Kanashiro, de 58 anos. “Gosto da coleção, sei que me casei com um intelectual”, diz ela, rindo e olhando para o marido. Eles são casados desde 1982. Miriam confessa que nunca leu nenhum dos livros, mas se interessa pelo assunto. “Prefiro acompanhar em filmes. Além disso, a maioria é escrito em inglês e eu não sei o idioma”.

O curioso é que Bernardo aprendeu inglês justamente com a leitura dos livros. “Sabia aquele básico que ensinavam nas escolas”, conta. “Mas ficava sempre com um ou dois dicionários ao lado e ia escrevendo, em uma folha separada, todas as palavras que não conhecia o significado para pesquisar depois a tradução. Hoje, percebo que a maioria das traduções são malfeitas. Teve um livro, que comprei também em português, e estava faltando um capítulo inteiro da versão original”. Ele demora a eleger o seu preferido. Até que a resposta vem: O Mais Longo dos Dias, de Cornelius Ryan. A obra, publicada originalmente em 1959, refere-se a 6 de junho de 1944, data de início da Batalha da Normandia, que ficou conhecida como o “Dia D”.

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Parte da coleção de 500 livros, a maior parte em inglês, está guardada no fundo da casa

A Batalha da Normandia é um dos fatos da guerra que ficaram populares, mas, conta Bernardo, existem outros casos menos conhecidos que também são interessantes”. Nessa hora, ele fala sobre os testes realizados pela Alemanha com o míssil balístico V2: “Era uma abreviação que significava arma de vingança. Só que os projetos não foram bem sucedidos. Os alemães desenvolveram os mísseis para que eles chegassem a Nova York, nos Estados Unidos”. Bernardo faz uma parada dramática na narrativa e arremata: “Mas, por problemas nos cálculos, eles acabaram caindo em Londres, na Inglaterra”.

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Projeto do míssil alemão V2, desenvolvido para atingir Nova York

E como anda hoje a coleção de aviõezinhos de montar? Bernardo abriu mão dessa paixão com o nascimento do seu primogênito, Leonardo, há 29 anos, e da caçula, Laís, três anos mais nova. “Tive que parar de pintar os aviões porque o cheiro da tinta era muito forte”, explica. “Por isso, continuei só com os livros”. Os aviões e os materiais de pintura ainda estão guardados no fundo da casa, no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo. “Agora, com os filhos crescidos, estou criando ânimo para voltar a pintar e montar os aviões”. O colecionador tem uma única lamentação em relação ao acervo. “Os livros ocupam um espaço muito grande e já percebi que meus filhos não têm o mesmo interesse por eles.  No futuro, acho que vou acabar doando tudo para alguma biblioteca”.

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