Os 11.551 atletas que desembarcaram no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016, os primeiros na América do Sul, trouxeram na bagagem uma história de quase 3 mil anos desde a primeira edição dos Jogos da Antiguidade. Uma trajetória que consagrou, desde as Olimpíadas na Grécia Antiga, atletas que se transformaram em mitos. Um deles foi homenageado no Parque Buenos Aires, em Higienópolis. Trata-se de Mílon de Crotona, seis vezes campeão das Olimpíadas na Grécia Antiga.
Na verdade, ela é uma réplica de uma das mais famosas obras do escultor francês Pierre Puget (1622-1692). Puget começou a esculpir a representação da morte de Mílon em 1671 e só terminou em 1682. Feita em mármore, a obra original está exposta no Museu do Louvre, em Paris desde 1819, e tem 2,70 metros de altura. Já a réplica paulistana é um pouco menor, tem 2,49m. A Praça Buenos Aires (o local só viraria um parque em 1987) recebeu a réplica em 1916, quatro anos depois de sua inauguração. Hoje, ela tem a companhia de outras esculturas de artistas como Daisy Nasser, Lasar Segall e Caetano Fracarolli. A réplica é feita de cerâmica e granito
Warde Marx, professor de História da Arte e colaborador do “Você é Curioso?”, conta que Mílon era “um Michael Phelps ou um Usain Bolt” da Antiguidade. Reverenciado inclusive pelos adversários, tornou-se conhecido não só por suas vitórias, como também pelo modo de preparação para as competições: “Ele é o percursor do fisiculturismo porque criou a prática do aumento progressivo de carga. Ele pegava um bezerro já encorpado e corria com ele no ombro. Fazia isso todos os dias com o mesmo bezerro. Ao final da preparação, o animal, já um boi, estava com cerca de 200 quilos. Então, ele o matava com um soco e fazia um churrasco pra comemorar”, afirma Warde.
O período de longevidade de Mílon também impressiona. Segundo o professor, acredita-se que sua primeira vitória nas Olimpíadas tenha sido aos 16 anos. Foi o início de um reinado que só terminou 28 anos depois, aos 44, quando ele foi superado por Timasitheus e abandonou as disputas já imortalizado como o maior atleta de seu tempo. E não foi só no esporte que ele se destacou entre os gregos, conforme explica Warde: “Ele estudou matemática junto com Pitágoras e liderou o exército da cidade-estado de Crotona em várias batalhas, quase sempre com sucesso, como na expedição contra Sibaris”. Em uma época onde a expectativa de vida girava em torno dos 50 anos, o vigor físico de Mílon o levou a competir e lutar em alto nível durante praticamente toda a vida, criando assim um mito em volta da sua imagem.
Depois da derrota para Timasitheus e o fim da carreira olímpica, Mílon virou uma personagem para a história. Marx garante que nenhum atleta da Antiguidade se aproximou dos feitos de Mílon: “Foram seis vitórias nos Jogos Olímpicos e seis nos Jogos Píticos (os Jogos Píticos eram realizados na cidade-estado de Delfos entre duas edições das Olimpíadas). Ninguém venceu tanto quanto ele”. O período de domínio em uma mesma modalidade é incrível até para os padrões atuais. Nos Jogos Olímpicos da Era Moderna, apenas o húngaro Aladár Gerevich alcançou seis vitórias em uma mesma prova – entre 1932 e 1960, fez parte da imbatível equipe húngara do sabre por equipes, na esgrima.
Sua morte, cuja data não é definida com precisão pelos historiadores, foi bastante curiosa. Enquanto caminhava, encontrou uma árvore ligeiramente rachada e decidiu terminar o serviço, cortando-a ao meio com as mãos. Acabou ficando preso na árvore e foi devorado por lobos. É justamente essa a passagem retratada na obra de Pierre Puget e replicada na estátua que está no Parque Buenos Aires.