As novas gerações chamam de “lambe-lambe” aqueles cartazetes que são afixados em muros, paredes e postes. Mas nós vamos voltar no tempo e falar dos fotógrafos lambe-lambes. Com a popularização de máquinas digitais, eles são praticamente uma espécie em extinção. Uma dessas ave-raras é Cássia Xavier, de 35 anos, graduada em Fotografia pelo Centro Universitário SENAC de São Paulo em 2007. A fotografia lambe-lambe entrou na vida dela quando virou tema do Trabalho de Conclusão de Curso.  Descobrir a origem do termo “lambe-lambe” foi o primeiro grande desafio. Em vez de uma, ela encontrou 14 explicações. Cássia elegeu as suas preferidas. Uma delas é que esses fotógrafos andavam com um espelho ao lado da câmera. Antes de tirar a foto, os cavalheiros se arrumavam, geralmente passando brilhantina no cabelo. A brilhantina dava aquele aspecto de “cabelo lambido”. Outra possibilidade é que, quando a foto era tirada da máquina, os fotógrafos a lavavam em um balde, dando a impressão de um cachorro lambendo a água. Há quem diga que o nome nasceu porque os profissionais lambiam a ponta do negativo, antes de colocá-lo no equipamento.

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Cássia Xavier, fotógrafa lambe-lambe desde 2007, carrega equipamento de 3,5 quilos

A câmera lambe-lambe tem o formato de uma grande caixa. Ali dentro estão a lente, o papel e um recipiente com os produtos químicos necessários para a revelação. O conjunto chega a pesar 3,5 quilos. “Além de ser pesado para carregar, a câmera não possui flash, então só posso fotografar com a luz do dia”, conta Cássia. “Mesmo com esses empecilhos, ainda gosto mais de fotografar assim do que com uma câmera digital”. O equipamento foi comprado de um argentino pela internet. “Por mais que se encontre o equipamento para vender no Centro de São Paulo, como a procura não é grande, a produção é baixa e o custo elevado”, explica. “O papel e os químicos que uso vêm dos Estados Unidos ou da Europa”.

Cássia diz que não conhece mais nenhum outro lambe-lambe que ainda trabalhe efetivamente na cidade de São Paulo. “Não existem mais cursos”, lamenta. “Aprendi um pouco de teoria na faculdade e a prática com o senhor Toninho, em Aparecida. Os fotógrafos antigos estão morrendo. Precisamos aprender com eles para essa profissão não acabar”. A Folha de S. Paulo apresentou em outubro de 2014 o paulistano Vanderlei Guedes, dono de uma câmera dos anos 1860.

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Sr. Toninho, professor de Cássia, trabalha em Aparecida (foto: Cássia Xavier)

Cássia começou a carreira de fotógrafa lambe-lambe dando oficinas e fazendo exposições. Seu plano agora é levar o equipamento para feiras públicas e praças. Ela pretende se caracterizar com roupas dos anos 50 e 60. “Antigamente a fotografia lambe-lambe se restringia a retratos de pessoas, mas algo que eu gosto muito é fotografar vistas de São Paulo do alto dos prédios”, diz. “Como carregar os 3,5 quilos? Ah, eu sempre dou um jeito!”.

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