Você acha que tosse atrapalha os músicos de uma orquestra? Pois saiba que papel de bala atrapalha muito mais. “A tosse atrapalha um pouco, mas não é irritante”, afirma o violinista Claudio Cruz. “Às vezes, os músicos estão no momento mais especial da música, tão concentrados que mal respiram, e alguém começa a manipular aquele plástico… É bem desagradável, ainda mais por causa do momento em que a pessoa quis abrir uma bala”.
Para driblar esse problema, a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) oferece balas sem papel para o público antes dos concertos. As balas estão disponíveis no Salão dos Arcos, no hall de entrada, e no Foyer da Sala São Paulo desde sua inauguração, em 1999. A ideia não foi da orquestra. Balas sem papel são também oferecidas em outras salas de concerto do mundo. Por aqui, quem implantou foi John Neschling, regente titular e diretor artísitico da Osesp na época.
Veja outras perguntas curiosas que fizemos para Claudio Cruz, que também é maestro da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (SP), e rege algumas apresentações da Osesp desde 1999:
Um maestro perde peso durante a apresentação?
Eu já tive a curiosidade de me pesar antes e depois de reger uma apresentação, e perdi peso,
sim. Além de suar bastante, o maestro trabalha em pé, movimenta os braços. É um bom exercício físico. Ao mesmo tempo, é um trabalho mental que certamente consome muitas
calorias.
A batuta deve estar sempre na mão direita, mesmo se o maestro for canhoto?
Se o maestro for canhoto e se sentir melhor com a batuta na mão esquerda, ele pode trocar, sem problemas.
Se os músicos não ensaiarem, eles conseguirão tocar tudo certinho só com a partitura e as ordens do maestro?
Existem concertos que acontecem sem nenhum tipo de ensaio. Em geral, isso ocorre quando
o repertório já é conhecido pelos integrantes daquela orquestra. Mas fazer uma primeira leitura de uma peça nova sem ensaio pode ficar apenas razoável, jamais vai soar perfeito.
O violinista ganha o mesmo que um músico da percussão?
A Osesp é a orquestra com a maior remuneração do País. Existem níveis diferentes em uma orquestra, e o salário varia de acordo com essas posições. Quem ganha mais é o regente. Em seguida, vêm os spallas, que são os comandantes de cada instrumento. Mas os spallas de violino ganham mais que os outros, porque a função é diferente. Eles podem até reger a orquestra. Já os spallas de violas, violoncelos e flautas ganham o mesmo salário. Depois vem a segunda categoria, que são os assistentes dos spallas, e por último a terceira, que são os outros músicos.
Por que os músicos tocam com roupas tão formais? Não seria mais confortável usar apenas camisa social?
Os músicos da Osesp tocam de terno e gravata só nos concertos de sábado à tarde.Em geral, tocamos mesmo de casaca, aquele traje comprido igual ao que se usava no século 18. Obviamente, é muito mais confortável tocar de camisa, mas o traje é uma tradição. Não prejudica tanto o desempenho, porque geralmente os teatros têm ar condicionado. Algumas orquestras estão começando a inovar nos trajes, e eu acho até bom. É muita roupa!
Com tantos músicos à sua frente, o maestro consegue saber quem está desafinando?
Bem, essa é a função dele. O regente precisa transformar todos os músicos num conjunto coeso, é a obrigação dele saber se alguma coisa está fora do lugar.
As grandes orquestras têm olheiros viajando pelo mundo para “roubar” talentos de outras, como no futebol?
Esse era meu sonho de adolescente, mas não tem nada disso no mundo da música. Seria bom
se fosse assim. É difícil para um jovem brasileiro começar uma carreira internacional.
A Osesp tem 39 músicos estrangeiros, originários de 15 países diferentes. Os ensaios são falados em inglês?
Os músicos estrangeiros já falam português, estão há um certo tempo na orquestra. Mas os
ensaios são normalmente em inglês, porque cerca de 90% dos maestros que recebemos nos últimos anos são estrangeiros. Mas na Osesp não é um pré-requisito falar inglês, inclusive porque a orquestra oferece cursos gratuitos do idioma.
(Com colaboração de Karina Trevizan)