Amanhã, 25 de janeiro de 2014, São Paulo completa 460 anos. A maior metrópole brasileira oferece a seus moradores e turistas 145 museus. Tem opção para todos os gostos: microbiologia, tatuagem, invenções, linguagem. Porém, nem tudo é festa. Três dos mais tradicionais estabelecimentos que preservam a memória da capital estão fechados. O blog São Paulo para Curiosos conversou com os responsáveis pelo Museu da Imigração, que está em reforma desde 2010, pelo Museu do Ipiranga, interditado em agosto do ano passado, e pela Estação Ciência, fechada desde dezembro de 2012.
“O projeto inicial desconhecia toda a necessidade estrutural do edifício”, esclarece Marília Bonas, 33 anos, presidente executiva do Museu da Imigração. A especialista em museologia explica que o prédio, construído em 1887 para ser uma hospedaria, nunca havia passado por uma restauração. Além disso, o edifício foi tombado pela Prefeitura, ou seja, a construção é considerada um patrimônio arquitetônico histórico da cidade e, portanto, deve ser preservada para as gerações futuras. “Como transformar um edifício tombado em um local acessível e tecnológico?”, questiona-se Marília.

Fachada do Museu da Imigração
A decisão de fechar o museu veio em 2010, depois de uma série de reuniões com especialistas em construção civil e membros da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. “Nossa principal preocupação eram os alagamentos enfrentados na região”, revela ela. Parte do edifício localizado no Brás, ficava submersa durante o período de fortes chuvas. “Todo o encanamento do bairro era do século passado”, justifica a museóloga. Desde então, o prédio passa por um processo de restauração. Marília garante que a reinauguração acontecerá ainda neste semestre, antes da Copa do Mundo. Além do tradicional acervo, com 12 mil itens, o novo museu contará com um andar para exposições de longa duração, uma sala de conveniência e exposições, uma biblioteca e o já tradicional passeio de Maria Fumaça, realizado em parceria com a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF).
Em março de 2013 a Estação Ciência, localizada na Zona Oeste de São Paulo, fechou as portas para o público. “Houve basicamente dois motivos”, justifica Michel Sitnik, assistente técnico de direção da Estação Ciência. “Primeiro, a estrutura do edifício precisava de uma modernização e, segundo, estamos procurando criar novos conceitos e conteúdos”. Michel conta que desde 2008 o espaço funciona sem um museólogo. A reitoria da Universidade de São Paulo (USP), responsável pela administração do projeto, só liberou no fim do ano passado a contratação de um especialista, que será selecionado por meio de um edital, em fase de preparação.
O dia em que a Estação Ciência reabrirá as portas para o público parece estar longe. “Estimamos a conclusão das obras em dois anos”, diz Michel. “No entanto, tendo em vista os entraves de tombamento do prédio e a burocracia das licitações para execução da obra, a reinauguração pode sofrer atrasos”. Mesmo fechada, a Estação Ciência não deixou de exercer atividades. “Em 2013, fizemos, em média, três eventos itinerantes mensais, atingindo um público de quase 500 mil pessoas”, explica. Outro ponto positivo foi a instalação de um “espaço provisório” no Parque Ecológico Cândido Portinari, ao lado do Parque Villa Lobos, no Alto de Pinheiros, inaugurado dia 26 de dezembro do ano passado.
O caso mais trágico é, certamente, do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga. Inaugurado em 1891, o importante museu fechou as portas em agosto do ano passado, sem previsão de reinauguração. “O restauro do edifício e sua ampliação requerem ações prévias a serem realizadas a partir de um planejamento muito rigoroso”, diz a diretora Sheila Walbe Ornstein. O início do restauro dos ambientes internos do prédio depende da transferência do acervo para outros locais. “Ações de obras e preservação de acervos em larga escala são atividades inconciliáveis”, explica ela. As atividades que aconteciam no Museu do Ipiranga já estão sendo remanejadas. O Museu Republicano Convenção de Itu, no centro da cidade, parte integrante do Museu Paulista, irá receber exposições e palestras. O Parque da Independência fará as recreações educativas que eram promovidas pelo museu.
Até agora só foram realizadas obras emergenciais, como o escoramento do forro de algumas salas do edifício. Só que o projeto é muito mais amplo: “É um trabalho extremamente meticuloso, que envolve análises, ensaios e estudos com especialistas em cada uma das áreas”, explica Sheila. A diretora conta ainda que existe um plano de ampliação do museu. “Queremos incluir um bloco técnico para receber as reservas de acervos, os laboratórios e todas aquelas atividades que dão apoio e suporte às exposições do edifício”. Sheila deposita no novo reitor da USP, que assume o cargo este sábado (25), a esperança para a aprovação dos projetos de restauro do edifício. “Mas, por enquanto, não há nenhuma previsão de data de reinauguração”, lamenta Sheila.