O paulistano Charles Miller é considerado o pai do futebol brasileiro. Filho de um inglês e de uma brasileira, Charles nasceu perto da estação de trem do Brás, na época um bairro nobre de São Paulo. Aos 9 anos, foi estudar na Europa. Desembarcou em Southampton, no extremo sul das ilhas britânicas, e aprendeu a jogar futebol na Bannister Court School. Depois de 10 anos na Inglaterra, retornou ao Brasil, em 1894, trazendo na bagagem duas bolas da marca Shoot. Também vieram com Miller uma bomba de ar, dois uniformes e um livro de regras. A primeira partida de futebol do Brasil aconteceu no dia 14 de abril de 1895, na Várzea do Carmo. As equipes eram formadas por ingleses radicados na capital paulista. O São Paulo Railway, time de Charles Miller, venceu a Companhia de Gás por 4 x 2.

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Campo da Várzea, onde em 1895 seria realizada a primeira partida de futebol do Brasil.

A história da chegada do futebol ao Brasil é conhecida e consagrada, mas ainda há quem a conteste. O Colégio São Luís acaba de lançar o livro Pontapé inicial para o futebol no Brasil, da Editora A9, escrito por Paulo Cezar Alves Goulart. O livro defende a tese de que, entre os anos de 1880 e 1895, jesuítas e alunos do Colégio São Luís, então em Itu (SP), já jogavam um esporte que seria o precursor do futebol brasileiro.

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 Segundo a pesquisa da obra, padres jesuítas teriam ido à Europa em busca de atualizações pedagógicas e voltaram com duas bolas de capotão na bagagem. A partir de 1880, novas modalidades esportivas foram sendo adicionadas à grade de educação física da escola. Entre as novidades, estava um jogo praticado com a tal bola inglesa trazida pelos padres, cujas regras, descritas no manual do colégio, eram bastante simples: os jogadores deveriam chutar a bola em direção ao muro do pátio do recreio. A atividade acabou ganhando o nome de “bate-bolão”. Em 1887, adicionaram-se marcações ao campo – que passaram a delimitar o gol – e os jogadores foram divididos em duas equipes.

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Quando assumiu o cargo de reitor, em maio de 1893, o padre Luís Yabar introduziu as regras definitivas para o futebol praticado no Colégio São Luís, baseado em suas observações durante visitas a escolas europeias. Em 1894, um ano antes de Charles Miller realizar aquela que é considerada a primeira partida de futebol do país, a demarcação do campo do Colégio São Luís foi ajustada para um valor próximo ao padrão inglês. Na mesma época, a marcação do gol na parede foi substituída por traves de madeira. Ao aluno de maior destaque no jogo seria dado o título de “campeão do futebol”, conquistado pela primeira vez por Arthur Ravache, em 1895.  Essa história foi contada também no livro Visão do Jogo – Primórdios do Futebol no Brasil, do historiador José Moraes dos Santos Neto, lançado em 2002, pela editora Cosac & Naify.

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Para John Mills, biógrafo de Charles Miller em Charles Miller – o pai do futebol brasileiro, da Editora Panda Books, há uma clara diferença entre o jogo praticado no Colégio São Luís e o trazido para o Brasil pelo descendente de ingleses. “Os jesuítas praticavam uma brincadeira de recreio sem regras definidas”, explica.  John Mills afirma ser Miller o introdutor do futebol no Brasil: “Charles Miller não foi o primeiro a trazer a bola, mas foi quem trouxe as regras do jogo que hoje conhecemos como futebol”. O biógrafo conta que a história é ratificada pelo  livro História do Futebol no Brasil, escrito por Tomás Mazzoni, icônico jornalista esportivo de A Gazeta Esportiva, e publicado em 1950.