Até 1944, as festividades mais importantes do Dia do Trabalho aconteciam no Rio de Janeiro. A capital do país era palco dos discursos do presidente Getúlio Vargas. Mas, nesse ano, Getúlio não teve coragem de encarar os trabalhadores cariocas. Levando em consideração as constantes reivindicações por novas leis trabalhistas na capital, Vargas optou por transferir as festividades oficiais para São Paulo, no Estádio Municipal do Pacaembu. Para que a população carioca acompanhasse o discurso do presidente, o governo espalhou alto-falantes por toda a cidade do Rio de Janeiro.
Em seu pronunciamento, Getúlio Vargas justificou sua presença em São Paulo como uma resposta ao apelo dos trabalhadores da cidade. Ao longo da oratória, parabenizou os operários paulistanos pela “conduta exemplar” em não realizar “greves nem perturbações nem desajustamentos”. O presidente ainda congratulou a população de São Paulo por compreender as decisões governamentais sem diminuir o ânimo nas produções.
Segundo os jornais da época, tudo ocorreu como planejado. No entanto, um relatório enviado ao governo inglês pelo cônsul britânico Robert T. Smallbones, convidado de honra de Getúlio Vargas que acompanhou o evento ao lado de oficiais do governo, mostra que não foi bem assim. Segundo o documento, as autoridades de São Paulo ofereceram àqueles que compareceram ao evento alimentação e transporte gratuitos. Além disso, o governo paulistano prometeu que os presentes no festejo não teriam nenhum desconto na folha salarial daquele ano. Mesmo com todos os benefícios, o estádio do Pacaembu não lotou. Segundo relato do cônsul britânico, grande parte da arquibancada ficou vazia.
Depois de terminar o discurso, Getúlio decidiu dar uma volta ao redor do estádio para saudar os paulistanos e mostrar aos revoltados cariocas como ele tinha sido bem recebido em São Paulo. Em carro aberto, o presidente passeou pelo Pacaembu, recebendo os aplausos de quem estava presente. O parlamentar inglês reparou que o carro que levava Getúlio reduzia muito a velocidade quando a concentração de operários aplaudia o presidente. Por outro lado, quando passava pelos trechos vazios da arquibancada, o motorista acelerava o veículo. Tudo um truque para passar a impressão aos ouvintes do Rio de Janeiro de que Getúlio estava sendo ovacionado pelos espontâneos, comportados e satisfeitos operários paulistanos.