No próximo dia 21 de agosto, o Parque Ibirapuera vai virar um sessentão. Sim, as obras atrasaram e a área não ficou pronta para as celebrações do Quarto Centenário da Cidade, em 25 de janeiro. O São Paulo para Curiosos listou 60 curiosidades – muitas delas totalmente desconhecidas pelos paulistanos:

O logo comemorativo do sexagenário Parque Ibirapuera – o nosso “Ibira”
1. Junto à inauguração do Monumento às Bandeiras e da nova Catedral da Sé, a abertura do Parque Ibirapuera marcou as comemorações dos 400 anos da cidade de São Paulo, em 1954. O local era um antigo acampamento indígena e contém 1,6 milhão de metros quadrados. Oscar Niemeyer e Burle Marx dividem a autoria do projeto arquitetônico. Seu nome, em tupi-guarani, quer dizer “pau podre”.
2. O Parque Ibirapuera abriu as portas no sábado 21 de agosto de 1954. Às 10h da fria manhã paulistana, houve uma salva de 400 tiros, de 15 em 15 segundos, para celebrar (com atraso) os 400 anos de São Paulo. Depois, o governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez, e o presidente da Comissão do IV Centenário, Guilherme de Almeida, exaltaram a história de São Paulo em um discurso. O último evento da inauguração aconteceu às 19h30, com o espetáculo “Festa do Fogo e da Luz”.

A grade de eventos do Parque Ibirapuera em sua estreia
3. No segundo dia de funcionamento, o Parque Ibirapuera foi palco de seu primeiro grande festival cultural. “Hoje, às 16 horas, no Parque Ibirapuera, o 1º Festival Brasileiro de Folclore”, divulgou O Estado de S. Paulo do dia 22 de agosto de 1954. O evento foi inspirado no Congresso Internacional de Folclore, naquele ano sediado na cidade de São Paulo. Na ocasião, a historiadora Tânia da Costa Garcia, professora da Unesp, sugeriu que a música popular urbana deveria ser excluída dos estudos por não possuir tradição.
4. O lago do Parque Ibirapuera tem 150 mil metros quadrados. Em suas águas, peixes como as tilápias e aves como os biguás lutam para sobreviver. É que, de acordo com estudos da Prefeitura de São Paulo, em 2010, o lago era formado por mais lodo do que água: para 30 centímetros aquáticos, havia 2,2 metros de lixo. Em 2013, duas pessoas morreram afogadas nessa água suja: um homem de 40 anos e um garoto de 16 anos.
5. Em 1957, a Bienal Internacional de São Paulo, mostra de arte moderna organizada pelo empresário Ciccillo Matarazzo, passou a ocupar definitivamente um enorme pavilhão de 33 mil metros quadrados e 250 metros de extensão no Parque Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer e batizado oficialmente de Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Em 1959, foi inaugurada uma área para teatro. A mostra, que cobre artes dramáticas e plásticas, filmes, pintura, escultura e arquitetura, acontece a cada dois anos. A cada edição, circulam pelas rampas do Prédio da Bienal cerca de um milhão de pessoas.
6. O primeiro e maior planetário brasileiro é o do Parque Ibirapuera. Foi inaugurado em 26 de janeiro de 1957. A sala tem 20 metros de diâmetro e lugar para 350 pessoas. Em março de 2013, depois de uma forte chuva, o local foi atingido por um raio, que afetou a rede elétrica e forçou a interdição da atração, que pode ser reaberta ainda no final deste ano. O outro planetário paulista, localizado no Parque do Carmo, também foi fechado no mesmo período, em decorrência de problemas hidráulicos.
7. O obelisco do Parque Ibirapuera, oficialmente batizado de “Obelisco aos Heróis de 32”, foi erguido em homenagem aos paulistas que lutaram na Revolução Constitucionalista de 1932. Maior monumento de São Paulo, a obra de 72 metros, projetada pelo ítalo-brasileiro Galileo Ugo Emendabili e executada pelo engenheiro alemão Ulrich Edler, foi iniciada em 1947. Houve uma inauguração parcial em 9 de julho de 1955, mas o obelisco de puro mármore travertino só foi concluído em 1970.
8. Embaixo do Obelisco estão enterrados 804 combatentes mortos na Revolução Constitucionalista de 1932, incluindo os estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, cujas iniciais formam a icônica sigla M.M.D.C. Em homenagem à data que marca o início da Revolução (9 de julho), há 9 degraus na entrada do monumento e 9 janelas em sua fachada. Visto de cima, o gramado de propositais 1932 m² onde está instalado o monumento forma um coração em volta do obelisco de 72 (um múltiplo de 9) metros de altura. A fachada tem, no solo, 9 metros de largura e em seu ponto mais alto, 7 metros. A largura da base é de 32 metros. Não por acaso, juntos, esses números também homenageiam a data da Revolução: 9/7/32. Segundo o coronel Mario Fonseca Ventura, presidente da Sociedade dos Veteranos de 32, restam apenas 25 vivos dos 130 mil que voluntariamente se inscreveram para o combate. “Por falta de munição e armamento, nem todos foram para a frente de batalha”, lembra. A mais idosa é Bianca Morandi Thelles Rudge, com 106 anos, e o mais novo, que participou da Revolução aos 16 anos, Ettore Francischini, já completou 98 anos.
9. Desde 2011, o monumento do Obelisco é palco da linha de chegada da Corrida de São Silvestre, que acontece tradicionalmente no último dia do ano em São Paulo. Com a mudança de percurso, que antes terminava na Avenida Paulista, foram preservados a largada no MASP e os 15 quilômetros de distância. No novo caminho, mais íngreme e acidentado, os corredores passam pelo Estádio do Pacaembu e pelo centro da cidade.
10. Em 1948, Francisco Matarazzo Sobrinho, o Cicillo, inaugurou o Museu de Arte Moderna (MAM) em São Paulo. Nelson Rockefeller, presidente do Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma), deu dicas sobre a organização do MAM. Na verdade, a instituição foi criada sob os moldes do museu norte-americano. O prédio no Parque Ibirapuera ocupado hoje pelo museu foi construído para abrigar uma exposição sobre a Bahia, realizada em 1960. Ele seria destruído, mas foi aproveitado para sediar o provisório Museu do Presépio. O MAM mudou-se para o local em 1968. Em 1972, o jornal O Estado de S. Paulo doou ao acervo 627 originais de desenhos e gravuras publicados pelo veículo entre 1956 e 1967. O jardim de esculturas do museu ocupa 6 mil metros quadrados e abriga 25 obras feitas por 21 artistas brasileiros.
11. No dia da morte de Ayrton Senna, 1º de maio de 1994, o cantor Milton Nascimento, acompanhado por um público de 50 mil pessoas, fez um show no Parque Ibirapuera e cantou duas vezes a música “Canção da América”, a favorita do tricampeão. O show já estava programado para acontecer, como parte das comemorações do Dia do Trabalho na cidade. Mas Milton, que era amigo pessoal de Senna, acabou transformando sua apresentação em uma inesquecível homenagem ao atleta.
12. A entrada principal do Parque Ibirapuera fica na Avenida Pedro Álvares Cabral, que homenageia o descobridor do Brasil. Às margens do Lago Ibirapuera, pode ser visto um monumento, criado por Luiz Morrone em 10 de junho de 1988 em homenagem ao português. Fixada à estatua, uma placa preta traz gravada uma polêmica frase de Tancredo Neves: “A Portugal, devemos tudo: nosso sangue, a nossa história, a origem das nossas instituições livres, o espaço amplo que habitamos.”
13. Quem entra no parque pelo Portão 6 dá de cara com a chamada “Praça do Porquinho”. Em meio à grama, dois meninos caçando um porco foram eternizados em uma escultura feita por Ricardo Cipicchia, nos anos 50, batizada de “Porco Ensebado”. O artista italiano nasceu em 1885. Com dois anos, chegou a São Paulo, de onde não saiu mais. A obra é inspirada em sua infância, vivida no tradicional bairro do Brás. Além da escultura do porco, Cipicchia criou a figura do Saci-Pererê, depois de ganhar concurso feito por Monteiro Lobato, no suplemento infantil “Estadinho”. Faleceu em 4 de setembro de 1969.
14. No encontro das 23 ruas do Parque do Ibirapuera, fica a Ladeira da Preguiça, conhecida pelo grande número de skatistas que fazem manobras em sua descida. Para quem chega pelo portão 1, próximo ao estacionamento, é o melhor caminho para as quadras esportivas. O curioso nome é motivo de mistério. “Alguns dizem que havia bichos-preguiça, outros que era uma parada de descanso, já que a ladeira é exaustiva, ainda mais para quem está correndo”, especula Heraldo Guiaro, administrador do parque.
15. Heraldo Guiaro dispõe de 40 milhões de reais por ano para administrar o Parque Ibirapuera. A renda é destinada a tudo o que acontece lá dentro: de workshops para crianças à estruturação do Viveiro Manequinho Flores. Apesar de ser o terceiro maior parque de São Paulo, atrás do Parque Anhanguera (9,5 km²) e do Parque do Carmo (4,5 km²), o Parque Ibirapuera, com seu 1,58 km² de área, tem o maior orçamento por metro quadrado de um parque paulistano.
16. A touca rosa, o jaleco verde e o forte azul dos olhos fazem de Severina de Araújo uma das vendedoras de coco mais conhecidas do parque. Há 38 anos, ela vende produtos no Ibirapuera. “Aqui, já vendi roupas, salgadinhos e Gatorade”, conta a senhora de 83 anos, ambulante mais antiga do parque, que mantém seu carrinho próximo ao portão 6. “Vendo 100 cocos por dia nos finais de semana, e 40 em dias comuns”, revelou a vendedora que saiu do Recife com 12 anos para trabalhar como babá em São Paulo. “Minhas amigas me contaram do trabalho, gostei e só saio daqui quando não aguentar mais”.
17. Poucas pessoas conhecem o Parque Ibirapuera como Cícero dos Santos Pereira, de 61 anos, o funcionário mais antigo. Em 1976, depois de três meses desempregado, acompanhou sua irmã ao parque para confirmar o recebimento do currículo dela, e aproveitou para deixar o seu. Em uma semana, foi contratado. “Comecei como jardineiro, passei por uma série de funções e hoje sou um ‘faz-tudo’ da administração”, conta o funcionário que dedicou 38 anos de sua vida ao parque. “Em 1995, enquanto varria, escutei o show do Ray Charles, um dos meus músicos favoritos”, lembra, com olhos emocionados. Em seus primeiros dias de trabalho, ele ganhou o apelido de “Barnabé” – uma referência ao Tio Barnabé, personagem de “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”.

Cícero está há 38 anos no Ibirapuera
18. Em uma sala escura da administração do parque, fica um móvel de aproximadamente 1,5 metro conhecido como “Achados e Perdidos”. Suas gavetas guardam chaves, documentos, cartões, envelopes, bolsas e tudo o que for encontrado no Parque. “Esqueleto de plástico e uma máquina fotográfica antiga foram os objetos mais estranhos que já achei por aqui”, conta o funcionário Cícero dos Santos Pereira. “O fotógrafo chegou desesperado aqui”, lembra, aos risos. Os objetos ficam guardados por até 10 dias. Depois disso, são doados ou destruídos.
19. Você sabia que há um túmulo dentro do Parque do Ibirapuera? Ao lado da pista de cooper, está a lápide do cachorro Pinguim, enterrado em 1946. É que antigamente, naquele local, funcionava um cemitério para animais, desativado antes da construção do parque. No túmulo, há a inscrição: “Ao nosso fiel amigo, Pinguim. Eternas saudades de teus donos, Nina e Nice”. O cão nasceu em 5 de março de 1937 e faleceu em 5 de junho de 1946.
20. Dentre as mais de 70 obras de arte espalhadas pelo Parque Ibirapuera, sendo 25 delas somente no Jardim das Esculturas, há 16 peças assinadas por Hugo França, artista que mais tem obras expostas no parque. Em 2010, o designer de 60 anos estreou seu trabalho no local, com “Lúdica Teia”, de 23 metros de altura e 15,5 toneladas – sua obra preferida. “É um eucalipto de 50 anos, que morreu depois de ser atingido por um raio, e ainda assim não caiu. Ele está no mesmo local em que vivia antes”, descreve o artista, que é fã assumido do parque. “O Ibirapuera é o pulmão de São Paulo. Emociona-me muito ver minhas obras aqui, e as pessoas brincando com elas”.
21. Quer se sentir no Central Park mesmo estando no Ibirapuera? Em 2011, a cidade de São Paulo sediou o C40, evento internacional que reuniu prefeitos de 40 cidades ao redor do mundo para discutir projetos ligados ao meio ambiente. A organização era presidida por Michael Bloomberg, também prefeito de Nova York. Como forma de agradecimento, Bloomberg presenteou o mandatário paulistano Gilberto Kassab com um banco extraído do famoso parque de Nova York. Atualmente, está colocado em frente à administração, perto da “Ladeira da Preguiça”.

O banco do Central Park é paulistano
22. Quem procura calmaria durante o dia pode recorrer ao Pavilhão Japonês, cujo acesso é feito pelos portões 3 e 10. O espaço foi um presente da colônia japonesa – a maior do mundo fora do Japão – à cidade de São Paulo, em razão de seu aniversário de 400 anos, em 1954. A construção é uma réplica do Palácio Katsura, em Quioto, no Japão. No espaço, está instalada uma mostra permanente em homenagem à cultura japonesa, com peças de roupa, objetos e utilitários tradicionais. No jardim, o visitante pode admirar um conjunto de plantas e árvores ornamentais devidamente identificas, além de um lago habitado por carpas, que podem ser alimentadas com ração fornecida pelos funcionários.
23. Além da Ladeira da Preguiça, há outro endereço com nome curioso no parque. Ao lado do “Pavilhão Japonês”, que homenageia os imigrantes nipônicos, está a placa: “Rua do ありがとう”. Essa expressão japonesa significa “arigatou”, ou “obrigado”, em português. Na celebração dos 400 anos da cidade de São Paulo, em 1954 – ano de inauguração do parque, o governo japonês enviou todos materiais para a construção do jardim nipônico, inspirado no Palácio Katsura, de Quioto.
24. A cada final de semana, as 970 lixeiras do Parque Ibirapuera recebem duas toneladas de detritos. Em média, são 6 gramas de lixo por visitante. Em 2012, o artista Eduardo Srur utilizou 60 toneladas de detritos para criar o “labirinto do lixo”, de 400 m², instalado também no sexagenário parque. Srur usou apenas resíduos recicláveis, como garrafas PET, plástico, alumínio e embalagens longa vida, na construção da obra.
25. Em meio ao gramado localizado ao lado direito do Auditório Ibirapuera, está a pedra fundamental do Parque Ibirapuera, que simboliza o ponto inicial de sua construção. Nela, há a escritura: “Neste Parque Ibirapuera, estabeleceu a Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo, no ano do senhor de 1954, a exposição e a feira internacional comemorativas do ano 400 da fundação da metrópole paulistana.”
26. No meio do Parque Ibirapuera, há um espaço aberto conhecido como Praça da Paz. O local foi batizado assim nos anos 60, em referência a comemorações da época em homenagem à paz mundial. Para representar a integração entre os povos do planeta, a prefeitura mandou plantar no local espécies vegetais dos cinco continentes. Lá, podem ser encontrados dendezeiros (espécie de palmeira da África), álamos (árvore europeia), flores de Abril (asiáticas), mamelucas (arbusto da Austrália) e exemplares do pau-brasil (árvore da mata atlântica sulamericana).
27. Na Praça da Paz, em uma das extremidades da ponte de ferro, há uma árvore cercada por 12 pedras gravadas com poesias de diferentes autores, como Reynaldo Bessa e Claudio Willer. A obra representa um relógio de sol que, de acordo com o horário, permite que uma pedra se destaque. “Poesia não tem hora” foi criada em 2011 pelo publicitário e artista plástico Lee Swain, com apoio de Rita Alves.

A “Árvore da Poesia”, na Praça da Paz
28. Ao longo dos anos, a Praça da Paz consolidou-se como local tradicional de shows gratuitos ao ar livre. O recorde de público de um show na Praça da Paz foi alcançado em 14 de outubro de 2001, quando 170 mil pessoas se aglomeraram no local para conferir a apresentação do grupo pop KLB. O evento não corre risco de ter seu posto tomado. Em outubro de 2008, uma votação da Câmara Especial de Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que os shows na Praça da Paz não poderiam mais abrigar um público superior a 30 mil pessoas.
29. Dentre as 15.500 árvores de 239 espécies presentes no Parque Ibirapuera, uma espécie se destaca por ser tanto a mais antiga quanto a mais alta. No início da Avenida Pedro Álvares Cabral, a poucos metros do Portão 9, estão os bolsões de eucaliptos, plantados no começo do século passado, que podem chegar a até 80 metros de altura, dependendo do solo e da idade. A espécie mais alta conhecida no mundo tem 90,7 metros, e está na Tanzânia.
30. Cerca de 200 mil pessoas vão ao Parque Ibirapuera a cada final de semana. Em comparação com os bairros paulistanos, o número impressiona. Itaquera, o 15º bairro mais populoso de São Paulo, abriga a mesma quantidade de pessoas que visitam o parque em dois dias. Durante a semana, o número cai para 30 mil visitantes por dia. Em um ano, 13 milhões e 200 mil pessoas frequentam o parque – número maior até do que a própria população da capital (11 milhões e 800 mil moradores).
31. Quem toma a conta da área de 1.584.000 m² é Heraldo Guiaro, 55 anos, “prefeito do parque” desde 2005. “Sonhava em mudar o mundo quando criança. Hoje, fomentar o amor pela natureza é incrível”, conta o engenheiro agrônomo, formado em 1983 pela USP de Piracicaba-SP. Heraldo faz o percurso de casa, no Ipiranga, até o Parque Ibirapuera de bicicleta. “Escolhi o ar do Ibirapuera para trabalhar. O ‘Ibira’ é mágico.”
32. O site TripAdvisor é o guia online de viagens mais conhecido e usado mundialmente. Na premiação aos melhores destinos de 2014, votado por internautas brasileiros e estrangeiros, o Parque Ibirapuera foi escolhido como o melhor parque da América do Sul e oitavo melhor do mundo. Foi isso que levou o turco Yanuz Guduk, chefe de cabine da companhia aérea Turkish Airlines, a ir conhecer o parque. “Ontem, fui à Avenida Paulista, não vi pessoas, é muito cinza. Já no parque, o ar é melhor e o local é muito bonito”, conta Guduk, de 27 anos, que tentou aproveitar ao máximo os dois dias em São Paulo. “Gostei daqui, espero voltar para conhecer mais atrações.”

O turco aproveitou São Paulo no parque mais famoso da cidade
33. Perambulando pelos oito toldos que abrigam as 350 bicicletas da “Flávio Bike”, única locadora de biciclos do parque, fica Flávio da Silva, de 36 anos. “Faço locação desde 1997, quando tinha apenas 20 bicicletas”, conta, orgulhoso, o apaixonado por duas rodas. “Aprendi a andar de bicicleta aos quatro anos, aqui no Ibirapuera.” Em sábados, domingos e feriados, o bacharel em Direito aluga até 1000 bicicletas por 5 reais a hora. “Não sei se é mais lucrativo fazer locação, porém é mais prazeroso. Se uma hora precisar, posso advogar”, conta Flávio, que se formou em 2002 pela Universidade Ibirapuera.
34. “Como é grande meu amor por você”, brada um dos maiores hits do Rei Roberto Carlos às suas fãs. A recíproca parece ser verdadeira. Em apenas um fim de semana, 7000 pessoas visitaram a exposição que celebrou os 50 anos de carreira do popular cantor – índice recorde em uma exposição na Oca. A mostra ficou em cartaz de 5 de março até 8 de maio de 2010. O segundo lugar é ocupado pela exposição “Corpo Humano: Real e Fascinante”, que, em 2007, levou à Oca 6000 pessoas em um final de semana. Habitualmente, 4000 pessoas visitam o espaço por final de semana; a frequência cai para 300 visitantes diários de segunda a sexta.

O Rei na abertura de sua mostra: até o calhambeque foi exposto
35. Quem já visitou o Parque Ibirapuera deve ter reparado o quão exótica é a fachada da Oca. Como será que os funcionários da limpeza conseguem dar conta de toda sua área? João Carlos Moreira, o zelador do local, desvenda: “Atrás do prédio, há um pino que, quando apertado, é usado como apoio para cordas, como se fosse um rapel.” Teoricamente, a pintura da Oca é feita a cada seis meses, mas a última ocorreu em setembro passado, para abrigar a mostra “The Little Black Jack”, exigência da empresa de moda Chanel. “Fizemos um retoque em março, e estamos planejando a próxima pintura”, conta o zelador do prédio de aproximadamente 10 metros de altura.
36. O Parque Ibirapuera tem catalogadas 218 espécies de animais, sendo 156 aves e 10 peixes. O curioso é que existe lá um hospital para animais silvestres. O Depave (Divisão de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre), localizado no Portão 7A do parque, foi criado em 1991, sendo o primeiro hospital municipal de animais silvestres do Brasil. Desde a inauguração, já foram atendidos cerca de 50 mil animais – a maioria é alocada no próprio parque depois dos tratamentos.
37. Criado 26 anos antes da inauguração do parque, em 1928, o Viveiro Manequinho Lopes, homenagem ao entomologista (especialista em insetos) que idealizou o jardim – falecido em 1938, aos 68 anos -, origina 90 mil plantas por mês, de 200 espécies diferentes. “Demora cerca de um mês para a planta do viveiro ser enviada ao parque. São 15 dias para crescer e mais 15 na meia-sombra para fortalecer”, explica Valter Passos, de 55 anos, comandante da estufa 6 do viveiro, composto por 10 estufas e 39 quadras de produção. O local fica próximo ao Portão 7A, e funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h.
38. Há 160 ambulantes no Parque do Ibirapuera, que dividem as vendas de alimentos, bebidas e sorvetes. Em 2000, o senador Eduardo Suplicy apoiou a criação de uma cooperativa para os ambulantes do parque, que temiam serem atrelados às lanchonetes – operação que, por pouco, não ocorreu. Apesar de criada, a Coopvapi (Cooperativa dos Vendedores Autônomos do Parque Ibirapuera) não possui a mesma força de antes. Os novos ambulantes necessitam concorrer pela licitação, assim ingressando diretamente nas duas cooperativas que representam os trabalhadores do parque atualmente, marginalizando a Coopvapi.

O carrinho de cocô e o de sorvete: ambos pertencem às cooperativas
39. Cobertas pela estrutura de uma antiga serraria de 15 toneladas, um grupo de mulheres pratica yoga. A peça, que foi aposentada em 1993, fica na Praça Burle Marx, próxima ao portão 7, e chama a atenção por seu tamanho e estado de conservação. Por ser um patrimônio histórico, a quarta serraria da cidade de São Paulo não pode ser modificada. “Antigamente, a serraria era usada para cortar ferro e solda”, lembra Anderson, encarregado pela jardinagem do parque. “Quando um garoto caiu e se machucou, foi desativada”, conta.
40. A ciclovia e as sete quadras esportivas do parque correm juntas em uma das principais ruas do Ibirapuera. Próximo ao portão 6, estão quatro quadras de basquete, duas de futebol – com traves sem redes – e uma quadra poliesportiva. Durante o final de semana, são jogadas aproximadamente 300 partidas de futebol, que começam às 6h da manhã e vão até o sol se pôr. A maioria dos jogos funciona no formato “10 minutos” ou “dois gols”. Portanto, em média, são marcados 800 gols por final de semana. O que Pelé levou uma vida para fazer, os visitantes do Ibirapuera fazem em dois sábados e domingos.
41. Encostado em uma das 34 janelas da Oca, João Carlos Moreira, de 60 anos, observa os visitantes da mostra dos Mayas, que fica exposta até 24 de agosto. Há três anos como zelador da Oca, João trabalha na prefeitura desde 2000 e é um apreciador de obras de arte. “Quando vi a manjedoura do papa João Paulo II, fiquei arrepiado”, recorda, a respeito da mostra “Esplendores do Vaticano”, de 2013. “Já estamos montando a homenagem para os 60 anos do parque. Garanto que está muito legal”, revela. Quando perguntado mais sobre a mostra, João mantém o mistério.

O zelador da OCA, João Carlos Moreira, ficou arrepiado com a manjedoura da mostra “Esplendores do Vaticano”
42. Já pensou se o Parque Ibirapuera mudasse seu nome para Parque Michael Jackson? Esse era o desejo do cantor e vereador Agnaldo Timóteo. Em setembro de 2009, dois meses depois da morte do “Rei do Pop”, Timóteo entregou uma carta ao então prefeito Gilberto Kassab sugerindo a mudança. O cantor também sonhava com a criação de uma estátua do ex-integrante do Jackson Five. “Seria visitado por milhões de pessoas de todas partes do mundo e de todas regiões de nosso país”, declarou na época Timóteo. “Ele foi o mais fantástico showman da história deste planeta.”
43. Todo final de ano, a rede social Facebook lança sua retrospectiva. Numa espécie de premiação, elenca os locais que mais receberam check-ins, ou seja, os lugares mais visitados por seus usuários. Em 2012 e 2013, o Parque Ibirapuera foi o campeão brasileiro de marcações no Facebook. Os parques da Disney, com filiais espalhadas pelo mundo, ficaram em primeiro lugar em três países: Estados Unidos, França e Japão.
44. A vida noturna de São Paulo é uma das maiores atrações da cidade. Música alta, baladas e muita festa acontecem todos os finais de semana na “Terra da Garoa”. Porém, para as pessoas que não gostam de barulho, há um refúgio nas madrugadas tranquilas do Parque Ibirapuera. Desde 28 de setembro de 2013, o parque fica aberto das 5h de sábado até as 0h de segunda ininterruptamente. O contraste entre dia e noite é gigantesco: 100 mil pessoas frequentam o parque sob o sol de domingo, enquanto na madrugada somente 5.000 notívagos caminham pelo local.
45. Dez portões dão as boas-vindas aos visitantes do parque. Os de números 2, 3, 4, 5, 6, 9 e 10 são os primeiros a serem abertos, às 5h da manhã, antes mesmo de o sol raiar. São os seguranças noturnos, que cumprem turno de 12 horas (das 19h às 7h) que detêm as 10 chaves que abrem os respectivos portões. As entradas 7, 8 e 9A são liberadas às 6h e o portão 7A é aberto às 7h. A entrada com carros é somente feita pelos portões 3, 7 e 10.
46. O Parque Ibirapuera abriga três museus. Criado em 2004, com mais de 6 mil peças sobre a cultura afro-brasileira, o Museu Afro Brasil está localizado próximo ao portão 3, dentro do Pavilhão Manoel da Nóbrega, projetado por Oscar Niemeyer em 1953. O Museu de Arte Moderna (MAM), inaugurado em 1948, primeiro museu modernista da América Latina, também tem seu acesso pelo portão 3. Próximo ao MAM, fica o Museu de Arte Contemporânea (MAC), que abriga 10 mil obras, entre as quais peças de Pablo Picasso e Tarsila do Amaral.
47. De dia, treinamento para futuros motoristas. De noite, reduto do público gay. Essa era a rotina do “Autorama”, estacionamento do Parque Ibirapuera, acessado pelos portões 3 e 4 até setembro de 2013. O prefeito Fernando Haddad decretou o fechamento do local das 0h às 5h, devido à ocorrência de tráfico de drogas e prostituição. O “Autorama” tornou-se famoso nos anos 80, quando era dividido por pilotos de “racha” e homossexuais. O apelido vem das linhas brancas em zigue-zague pintadas no chão, que lembram o tradicional brinquedo simulador de corridas.
48. 1,6 milhão de litros de água é o que gastam por mês os 22 bebedouros do Parque Ibirapuera. Um banho de 10 minutos, em uma ducha comum, gasta 162 litros de água. Se uma pessoa tomar um banho por dia, com duração de 10 minutos, ela demorará 27 anos para usar a mesma quantidade de água despendida pelos bebedouros do parque mensalmente.

Os passarinhos também ajudam na conta
49. Quanto você paga de conta de água na sua casa? Na sala da administração do Parque Ibirapuera, mensalmente, chega um envelope da Sabesp no valor de aproximadamente 100 mil reais. No mês passado, a conta foi de exatos 102.534,09 reais. A conta de luz do Parque Ibirapuera vale um carro zero: chega ao valor médio de 48 mil reais. Por ano, somando os dois débitos, o parque paga à prefeitura um 1,8 milhão de reais.
50. Dentro do Parque Ibirapuera, há 456 funcionários servindo o espaço público. Entre eles, estão o administrador Heraldo Guiaro, o veterano Cícero dos Santos e o jardineiro Valter Passos. Os 160 ambulantes não entram na conta, mas estão inclusos faxineiros, pedreiros, secretários, administradores, porteiros e seguranças.
51. Estão espalhados pelo parque 18 monumentos. Além dos já vistos aqui, como o “Porco ensebado” (item 12) e a estátua de Pedro Álvares Cabral (item 13), há o busto de Chico Mendes, famoso ativista ambiental, e um tributo a Ibrahim Nobre, um dos principais discursadores da Revolta de 1932, que escreveu o poema “Minha terra, minha pobre terra”, marco daquela batalha.
52. Todo fim de ano, a praça Escoteiro Aldo Chioratto, em frente ao Parque Ibirapuera, cede seu espaço à instalação de uma gigante árvore de natal. Em 2013, um contingente de 200 pessoas ficou responsável pela montagem da estrutura de 30 toneladas, decorada com 174 enfeites, que atingiu 28 metros de diâmetro e 58 metros de altura – o equivalente a um prédio de 20 andares! Para iluminar o trambolho, fizeram-se necessárias 500 lâmpadas e 12 mil metros de mangueiras de LED, distribuídas em 300 refletores. A atração natalina mais visitada em São Paulo costuma dar trabalho à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET): só a inauguração, no ano passado, gerou 3,6 km de congestionamento nos arredores do símbolo natalino.
53. O parque aproveita o movimento do fim do ano para apresentar seu famoso espetáculo Fonte Multimídia, mais conhecido como “Dança das Águas”. Instalada no Lago do Ibirapuera, próximo ao portão 3, a Fonte do Ibirapuera foi inaugurada em 23 de janeiro de 2004, como parte das comemorações dos 450 anos da fundação da cidade de São Paulo. De 2004 a 2013, o show de 25 minutos de duração, que mistura a coreografia das águas com um jogo de luzes, atraiu cerca de 1 milhão de espectadores ao Parque Ibirapuera.
54. Em frente ao Parque Ibirapuera, há o popularmente chamado “Empurra-Empurra”. O Monumento às Bandeiras, criado pelo escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret, tem 50 m de comprimento e 16 m de altura. Em 1920, Monteiro Lobato liderava um comitê que escolheria uma obra para homenagear o bicentenário da Independência. O projeto de Brecheret foi o vencedor, porém foi recusado por um membro do comitê, que alegou que a obra não poderia ser feita por um estrangeiro. Por isso, o projeto foi congelado, sendo retomado próximo às comemorações do IV Centenário paulistano, quando o problema quanto à nacionalidade do artista já havia sido superado.

O projeto de 1920 do Monumento às Bandeiras
55. Dentre as 30 pessoas retratadas na obra, somente uma – a última da fila – está realmente empurrando a canoa, e é, portanto, responsável pelo apelido “empurra-empurra”. Um dos personagens retratados na obra é o próprio Victor Brecheret, em cuja pedra há a inscrição “Auto-retrato do escultor Victor Brecheret 02-10-1937”. Ao todo, são retratados portugueses, negros, mamelucos, índios e, principalmente, bandeirantes, que olham em direção ao Pico do Jaraguá, rumo ao interior do Estado, onde costumavam caçar índios e pedras preciosas. A obra foi entregue em 25 de janeiro de 1953. Na época, Brecheret, doente, temia sua morte, que chegou em 1955.

“Empurra-empurra”: o último homem do monumento empurra a canoa

O autor Brecheret está na obra
56. Em frente ao portão 10 do Parque Ibirapuera foi inaugurado, em 1968, o Palácio 9 de Julho, mais conhecido por abrigar a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A construção do moderno edifício, projetado por Adolfo Rúbio Moraes e Fábio Kok de Sá Moreira, despendeu o trabalho de um milhar de trabalhadores, que levaram 5 anos, 6 meses e 23 dias para concluir a obra. A inauguração aconteceu no dia 25 de janeiro, em homenagem aos 414 anos da fundação da cidade. Antes de se instalar no robusto edifício retangular revestido de granito e mármore, a Assembleia Legislativa de São Paulo teve sua sede no Colégio dos Jesuítas (atual Pátio do Colégio), no Casarão do João Mendes (atual Praça João Mendes) e no Palácio das Indústrias (atual Parque Dom Pedro).
57. O Ginásio Geraldo José de Almeida, mais conhecido como Ginásio do Ibirapuera, tem capacidade para abrigar um público de até 11 mil pessoas. O espaço, de responsabilidade do governo do Estado, sedia espetáculos culturais, esportivos e de lazer. O nome do local, inaugurado em 25 de janeiro de 1957, é uma homenagem ao locutor esportivo que transmitiu todas as Copas do Mundo de 1954 a 1974, testemunhando a transição dessa atividade do rádio para a televisão.
58. O Rei Roberto Carlos volta à lista. Se o cantor foi o recordista de público na Oca, no Ginásio do Ibirapuera, ele fica em segundo lugar. Em 2012, o violinista holandês André Rieu levou 160 mil pessoas em 24 shows no ginásio, quebrando assim o recorde que antes pertencia a Roberto Carlos. Os sete espetáculos do Rei em 2009 geraram um público total de 70 mil pessoas.
59. Próximo ao portão 9 do Parque Ibirapuera, está localizado o Instituto Biológico, conhecido como IB. Nasceu em 1927 com um único objetivo: combater uma praga que havia destruído os cafezais paulistas. Naquele período, São Paulo era o estado de maior destaque no país, pelo sucesso da exportação de café. O prédio foi projetado pelo arquiteto Mário Whately. Atualmente, abriga um centro de pesquisas voltado ao agronegócio e o “Museu do Instituto Biológico”, que guarda 340 mil documentos sobre a história da sanidade ambiental, vegetal e animal no Brasil.
60. O Campeonato Sul-Americano de Aeromodelismo, de 1966, realizado na Argentina, foi um divisor de águas para as proximidades do Parque Ibirapuera. Após pífio desempenho na competição, Wálter Nutini, o mais destacado modelista na época, dirigiu-se ao então prefeito Brigadeiro Faria Lima e reclamou um centro de treinamento para a modalidade. Em plena Páscoa de 1967, foi inaugurado o Modelódromo do Ibirapuera, o primeiro espaço sul-americano para aeromodelismo. Até hoje, é o reduto dos apaixonados por “aviões de brinquedo”, que podem ser vistos sobrevoando os arredores do parque, que fica a 250m do local.

Aviões são a marca registrada do Modelódromo
(com reportagem de Júlia Bezerra e Lucas Strabko)
teria que cercar o monumento, para que as pessoas não depredem mais………
Precisa de duchas para quem quer caminhar ou correr e em seguida partir para o trabalho.