Os caminhões de mudança já fizeram trinta viagens entre a Rua Boa Vista, no centro, e o Jockey Club de São Paulo, em Cidade Jardim. Quem está coordenando a desocupação do prédio onde funcionava a sede social do Jockey é Silmara Garcia, que trabalha na área de eventos há 5 anos. Só ficaram por lá ela, um segurança, uma faxineira e dois porteiros.  Para quitar dívidas de impostos atrasados, o Jockey foi obrigado a vender para a Prefeitura a sua chácara, na zona Oeste (será aberto ali um parque) e também o edifício de 16 andares. O prédio foi arrematado por  90 milhões de reais por um empresário associado do Jockey – o nome não foi revelado –  em sociedade com os proprietários do Shopping Porto Geral, que fica na ladeira de mesmo nome, a poucos metros dali.

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O Jockey ocupava apenas dois dos 16 andares do prédio. Os demais eram alugados para escritórios de advocacia, bancos e financeiras. O oitavo andar era exclusivo para uso dos sócios. Contava com mesas de snooker, um bar em estilo inglês, um salão nobre, uma sala com televisão – onde os sócios se reuniam para ver jogos de futebol – e uma grande biblioteca, que serviu de cenário para gravações de comerciais, incluindo um com o ex-jogador Ronaldo Fenômeno. O salão do nono andar era alugado para festas e eventos. Funcionava ali também o restaurante Lia Tulmann. “No dia 31 de dezembro, recebemos o comunicado de que o prédio teria que ser desocupado e que deveríamos fechar as portas”, conta a chef Marcela Tulmann. O restaurante está se mudando para a Avenida Brigadeiro Faria Lima, 4300.

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Apesar de já terem sido feitas 30 viagens de caminhões de mudança, ainda falta muita coisa para ser retirada. “Não havia tanta pressa em começar a mudança”, explica Sebastião Salles, gerente de marketing do Jockey. “Os contratos com vários inquilinos só terminariam no final de 2014, então tínhamos que estar funcionando até aquela data”.

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Por enquanto o que deu mais trabalho na mudança foram dois sarcófagos, cada um pesando 1 tonelada. “Não temos informações muito precisas sobre as peças”, conta Salles. “Eles são de pedra calcária, provavelmente do período clássico romano, vieram da Itália e foram adquiridos por nós na década de 1960”. O mais curioso é que o Jockey só descobriu recentemente que tinha essas relíquias em seu patrimônio. Antes de começar a mudança, um avaliador foi qualificar as peças existentes nos dois andares. Foi ele quem alertou que as peças que estava servindo como jardineiras tinham valor histórico. “Quando ele disse que eram sarcófagos antigos, nós retiramos imediatamente as plantas que estavam em cima”, lembra Silmara.

A equipe de mudança demorou cinco horas para conseguir levar os sarcófagos até o elevador. “Como eram muito pesados, não conseguimos embalá-los”, conta Silmara. “Por isso, quando saímos do prédio com eles, muitas pessoas paravam na rua para tirar fotos”.

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Ainda não se sabe o que os donos proprietários farão com o prédio. É bem possível que eles continuem alugando as salas, como fazia o Jockey. Quanto ao mobiliário, o destino tem sido um antigo ambulatório dentro do hipódromo. Salles garante que nada será vendido. O plano é que esse ambulatório, que funciona num galpão de dois andares e com 30 salas, se transforme na nova sede social. “Já faz quase dois anos que estamos esperando a autorização para restaurar esse antigo ambulatório, pois ele é um patrimônio tombado”, explica. “Assim que a obra for concluída, nós desembrulharemos tudo e decoraremos o novo espaço como se estivéssemos de volta ao centro”.

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(Com fotos e reportagem de Beatriz Duarte)