Com a Seleção Brasileira praticamente classificada para a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, você já pode começar a colocar em prática o plano de aprender algumas palavras em russo. Snizhana Maznova chegou ao Brasil, como ela própria define, trazida pelo destino. Preparada para trabalhar no Japão como intérprete de russo, ela viu sua vida virar de cabeça para baixo em 2006. Em terras brasileiras e precisando criar a filha de 1 ano, ela resolveu dar aulas particulares do idioma natal em seu próprio apartamento. Insatisfeita com os resultados iniciais, fruto do escasso material didático disponível, ela resolveu criar por conta própria um método de ensino. Depois de dois anos, em 2009, 40 pessoas já se deslocavam até a casa de Maznova para aprender russo. “Não estava conseguindo atender a todos e decidi me juntar a outros professores”, recorda. Foi daí que nasceu o Clube Eslavo, um centro de aprendizado de russo e ucraniano para brasileiros.
Hoje, o clube conta com oito professores e cerca de 200 alunos fixos, como são chamados aqueles que tem presença periódica bem estabelecida: “A maioria vem de maneira avulsa, quando encontra um tempo”, explica a professora. Desses 200 matriculados, apenas 40 marcam presença no prédio da Rua Cubatão, na Vila Mariana, zona sul da cidade. O resto desfruta do curso online, por meio do Skype. Além disso, é possível ser um aluno autodidata, recebendo apenas o material didático e tirando as dúvidas pontuais. Por conta dessa facilidade, o Clube Eslavo recebe alunos de todo o Brasil. Segundo Snizhana, apenas uma pequena parte dos inscritos vem de família russa, sendo a grande maioria dona de uma curiosidade que vem dos estudos acerca da literatura e do teatro da Rússia. “Posso afirmar que a maioria dos meus alunos são poliglotas, que depois de conhecer um ou dois idiomas se interessam em saber mais um”, conta. Snizhana está torcendo pela classificação da Seleção Brasileira para a Copa. Ela acredita que o interesse dos brasileiros pela língua dos anfitriões aumentará nos dois próximos anos.
Consciente de que o russo é um idioma muito distante do português, o clube se desdobra para que os inscritos no curso tenham assistência completa. Todos os dias, por pelo menos 15 minutos, eles podem tirar dúvidas com os professores pelo Facebook. Snizhana afirma que um aluno dedicado é capaz de se comunicar e de traduzir textos do russo para o português depois de dois anos de estudo. Para falar russo ou ucraniano fluente, no entanto, é preciso ainda mais esforço: “Depende da capacidade de memorização do aluno”, diz ela. “Depois de quatro anos, em geral, dá para ser fluente em uma área específica. No entanto, se mudar de área, vai precisar de um ou dois meses para se adaptar ao vocabulário. Eu, por exemplo, estou no Brasil há nove anos, sou tradutora e ainda não domino completamente o português”.
Maznova acredita que o uso das novas tecnologias fez da escrita a parte mais difícil no aprendizado da nova língua: “Muita gente tem preguiça de escrever, então acha mais prático tirar foto da lousa. Isso pode ser mais prático, mas também atrapalha na memorização. Por isso sugiro que usem os smartphones ou tablets para digitar as palavras, até porque ainda tem a possibilidade do corretor automático arrumar os erros”, pondera. O curso também se dedica a “salvar” os desesperados que tem viagem marcada para o leste europeu e precisam aprender em pouco tempo. Maznova garante que com dez horas de aula já é possível aprender as bases do alfabeto cirílico, frases simples de cumprimento e agradecimento e o mínimo para se comunicar em restaurantes, hospitais ou com a polícia.
A equipe de professores do Clube Eslavo: a Copa de 2018 deve aumentar a procura por cursos (Fotos: Divulgação)
Na mão contrária, o Clube Eslavo também se dedica a ensinar português para os imigrantes dos países da ex-União Soviética. Com menor demanda, um único professor é suficiente para familiarizar a turma ao idioma brasileiro. Snizhana aponta as maiores dificuldades para os russos: os artigos e a concordância na conjugação verbal. Natural, em se tratando de duas línguas completamente diferentes. Do lado brasileiro, as maiores “pedras no sapato” durante o processo de aprendizagem é a conjugação dos verbos, a declinação dos substantivos e os chamados “verbos de movimento”.