“Nunca vou sair do Ipiranga”, proclama Dalmira Soares para quem pergunta sobre o novo endereço da Sorveteria Damp, na Rua Lino Coutinho, num local bem maior que a antiga loja, na General Lecor. “As pessoas nos consideram como parte da história do bairro”, garante a proprietária, que comanda a sorveteria há 44 anos.

Para justificar essa relação, a Damp aposta em uma aula de História por meio do sorvete: desde o ano passado, a Independência do Brasil, decretada às margens do vizinho Riacho do Ipiranga, inspira novos sabores no cardápio para lá de variado da casa. “No ano passado, fizemos o Sorvete do Príncipe – uma receita de chocolate branco mesclado com chocolate ao leite – e foi o maior sucesso”, conta Dalmira com a segurança de quem está acostumada com as novidades no local. São mais de 100 opções no cardápio. “Então, esse ano eu pensei: por que não fazer o sorvete da Marquesa de Santos?”

Riacho do Ipiranga: como um inexpressivo riozinho entrou para a História do Brasil

Desta vez, porém, as inspirações na história da Independência não se resumiram ao nome. A própria receita do Marquesa também tem relação com o Brasil Colônia: “Fizemos uma mistura. Escolhemos a tapioca, que é brasileiríssima, para se juntar à ambrosia, que os portugueses trouxeram para cá. Por fim, adicionamos o vinho do Porto, que é outra marca de Portugal”, conta a dona da Damp.

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O Sorvete da Marquesa mistura vinho do porto, tapioca e ambrosia

O processo de criação é longo e envolve testes cuidadosos até que se descubra a combinação ideal entre os ingredientes. Nessa hora, porém, a experiência de tantos anos no ramo ajuda a encurtar os caminhos: “Fica mais fácil porque já trabalhamos com tapioca e ambrosia aqui há pelo menos dois anos. Meu chefe de produção é baiano e um grande especialista nesses sabores, então a gente já tinha uma ideia de como fazer, que tapioca usar”, pondera Dalmira.

Os clientes vêm aprovando a novidade e podem se preparar para novas invenções inspiradas no maior acontecimento da história do bairro: “Vamos continuar, com certeza. Será que a Imperatriz Dona Leopoldina vai pintar aí?”, adianta Dalmira, antes de mostrar uma preocupação digna de quem conhece o assunto: “Só precisamos tomar cuidado para não ter briga entre ela e a Marquesa”.