“Deixa eu perguntar uma coisa: como é que vocês me acharam aqui?”. O publicitário Roberto Carlos Jorge, 50 anos, está ciente de que a portinha no número 392 não salta aos olhos de todos os que passam pela movimentada Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, na zona oeste. Ciente também ele está de que, quatro meses depois da inauguração, o Boca Pão com Linguiça ainda não está pronto: “O espaço ainda não me dá lucro, mas estou me dedicando de corpo e alma porque o retorno que recebo é muito positivo”, empolga-se.  “Quero mexer na entrada e acertar um pouquinho a luz e o som”, promete. Com três funcionários, a casa já funciona em sua plena forma, mas está em permanente adaptação para chegar ao gosto do seu criador.

Aos 50 anos, Roberto Carlos Jorge comanda o Boca Pão com Linguiça

Roberto desenhou o cardápio do Boca partindo de uma proposta: valorizar o pequeno produtor e os produtos artesanais. De cara pensou na tradicional Linguiça do Rosário, de Bragança Paulista (SP), que está completando 70 anos de existência. Cada sanduíche de pão com linguiça sai por R$ 20 e o Boca vende de 30 a 50 deles por dia. Os queijos são da Serra da Canastra (MG). A salsicha é da marca Berna, fábrica de uma família alemã de Valinhos (SP). Depois vieram as criações próprias: hambúrgueres, molhos, maioneses e a linha vegana, que conta com salsichas e hambúrgueres. Os salgados veganos são feitos por uma empresa familiar de pequeno porte. Ao mesmo tempo, o publicitário resolveu dar espaço para outra de suas paixões: as cervejas artesanais. Antes de conversar com a reportagem, por exemplo, ele recebia dois cervejeiros do Rio de Janeiro e conhecia um novo rótulo que em breve estará na geladeira já bem abastecida de opções nacionais e internacionais.

O pão com linguiça que é o carro-chefe da casa (Foto: Divulgação)

A ideia de abrir o bar veio no fim do ano passado por iniciativa do hoje sócio Eduardo Nogueira, que tem restaurantes em São Paulo e Brasília. Eduardo havia inaugurado no ponto da Teodoro Sampaio um café que não andava muito bem: “Sempre gostei de gastronomia e o Eduardo era meu cliente. Ele me chamou para montar algo como eu quisesse”, lembra Roberto.  Foram dois meses pensando em toda a decoração e cerca de 400 mil reais investidos (por enquanto) para dar ao lugar a “cara” que ele pretendia. Se a decoração é de Roberto, o nome foi pensada por Eduardo: “Ele me disse que sempre quis batizar um lugar com esse nome e eu fui na dele. Ficou até engraçado porque é Boca e tem porco… Antigamente, quando um lugar era ruim, diziam que era uma ‘boca de porco’. Mas aqui não! Ficou simpático”, diverte-se.

Parede de tijolos na entrada: “Sempre gostei disso”

O ambiente, como define o próprio Roberto, é “despojado, rústico, uma garagem”. Do lado de dentro, uma parede de tijolos armazena pequenos quadros de marcas de cerveja ou de “garage bars” norte-americanos. O cliente chega e já está em um corredor entre dois balcões. Dos dois lados, cadeiras pretas são dispostas uma do lado da outra: “É para as pessoas se conhecerem mesmo, ficarem soltas, juntas”, conta ele. “Ao longo da minha vida, sempre curti madeira, tijolo. Quando eu viajei para fora eu fui a muitos bares e pubs assim”, explica.

Nada de mesas individuais: os clientes se acomodam em bancos dispostos um do lado do outro

Se o cobiçado ponto na Teodoro Sampaio traz uma incrível concorrência de estabelecimentos que faz a portinha do Boca ficar quase escondida, o vai-e-vem das pessoas que trabalham na região ajuda o lugar a ficar conhecido: “Tenho três horários de pico”, explica Roberto. O primeiro, na hora do almoço, o motivou a criar o “Boca box”, com pratos executivos e refil de limonada. No segundo, que começa às 5 da tarde, as pessoas que saem do trabalho se apertam no balcão para a happy hour: “Atendo muitos médicos do Hospital das Clínicas, que fica poucos metros acima”. À noite, por fim, os dias mais movimentados são quinta e sexta, quando atrações musicais soltam a voz ao fundo do corredor, em um espaço apertado entre a geladeira e os balcões.