Quando a Pizza Hut abriu as portas na cidade de São Paulo, em 1992, lembro das filas de 2 horas de espera que os paulistanos enfrentavam para provar a novidade numa rua atrás do Shopping Ibirapuera. Fui um deles.  O que se viu depois foi a Pizza Hut encerrar a operação por aqui e retornar depois totalmente repaginada, com cardápio adaptado para o paladar brasileiro, algum tempo depois. Os anos se passaram e o fascínio que a cidade tem por novidades que vêm de fora só aumentou. Com o Jamie’s Italian, do chef-celebridade Jamie Oliver, não foi diferente. Filas gigantescas nos primeiros meses. Em 2012, durante a cobertura dos Jogos Olímpicos de Londres, fui conhecer  duas casas – o próprio Jamie’s Italian e o Fifteen.  Nenhum dos dois chegou a me emocionar – ao contrário de casas como dos chefs Gordon Ramsay e Yotam Ottolenghi. Mas estava curioso para conhecer a casa na Rua Horácio Lafer, no Itaim Bibi, que vem recebendo pesadas críticas nas redes sociais. Ontem à noite, fui com minha família finalmente visitar o lugar. Não havia fila, embora a casa estivesse cheia. De fato, fazia tempo que eu não tinha uma refeição tão cheia de percalços. Deu até para criar um jogo dos 7 erros.

www.raphaelcriscuolo.com.br Foto: Raphael Criscuolo ATENÇÃO:

Fachada do restaurante Jamie’s Italian, do chef-celebridade Jamie Oliver, no Itaim Bibi: lindo salão, mas temperatura pouco aconchegante

1.  A casa é linda. À noite, o amplo salão, iluminado com velas, fica supercharmoso. Mas o ambiente não é nada aconchegante. O salão principal está cheio de enormes aparelhos de ar-condicionado ligados numa temperatura muito baixa. O frio que fazia lá dentro era congelante. Pedi uma outra mesa, num lugar um pouco mais quente. Não sei se foi provocação, mas o garçom nos levou para uma mesa na frente da cozinha. Aí o calor é que era o problema. Tanto que, quando meu filho pediu a sobremesa, a garçonete disse que ele deveria tomar bem depressa o sorvete porque ali ele derreteria muito rápido. Muito quente ou muito frio? Concluí que o restaurante não tem uma mesa que seja minimamente agradável.

2.  Para começar, pedi a cestinha de pães artesanais (22 reais). Não é uma cestinha. Parece mais um vasinho de violeta em que foram espremidas quatro fatias de pão e focaccia. A “cestinha” vem acompanhada de tapenade de azeitona. Não chega a ser aquela enganação que alguns restaurantes fazem cobrando o couvert por pessoa, mas sugiro que você não peça. Não vale o que custa.

3. Como entrada, pedi meia porção de “Minha Salada Caprese” (R$ 18). A atendente trouxe a versão grande (R$ 29). Concordei que ela deixasse a maior, pois poderia dividir com a minha mulher e a minha filha. Ninguém conseguiu comer. A quantidade de pimenta – não informada no cardápio – era insuportável. Eu mesmo nunca tinha provado uma salada caprese tão forte. Enquanto isso, numa mesa ao lado, uma família devolveu dois pratos de massa. Disseram que não era impossível para comer com aquela quantidade de pimenta, descrita pela moça como “suave”.

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“Minha Salada Caprese” veio com uma quantidade absurda de pimenta, que não é informada no cardápio

4. O “nosso famoso linguine com camarão” estava insosso.  Sem gosto, macarrão grudento, camarões minúsculos. Também não vale os 64 reais cobrados. Dá até uma certa dor no coração pagar tanto por um prato tão sem graça. São Paulo tem dezenas de restaurantes italianos que fazem bem melhor. Minha sugestão é pedir o Jamie’s Sausage Pappardelle, que pelo menos sai por R$ 39 e tem um certo sabor.  Ah, o prato para crianças é uma enganação. No cardápio infantil (um bem sacado binóculo infantil para ver as imagens), a massa número 4 aparecia com um suco e uma saladinha. Só veio uma tigelinha de macarrão, que alimenta bem um bebê. Jamais uma criança de 9 anos.

5. O que é a falta de treinamento, né? A garçonete entregou os pratos de massa e não apareceu com o queijo ralado. Tivemos que chamá-la. Ela disse que faria isso logo depois de levar a conta para uma outra mesa. Pois bem: ela levou a conta, depois foi buscar a máquina de cartão de crédito, depois passou o cartão de crédito, depois foi devolver a máquina, depois foi entregar uma garrafa de água em outra mesa, entregou a água em mesa errada e só depois lembrou do nosso queijo ralado. Nossos pratos estavam praticamente terminados.

6. Ao tirar os pratos, a atendente viu que havia ficado uma generosa porção de “nosso famoso linguine com camarão” no prato. Perguntou se havíamos gostado e fomos absolutamente honestos. Dissemos que “não”. Como não foi treinada para atender clientes sinceros, ela fez cara de paisagem e não disse mais nada. Continuou tirando os pratos.

7. De sobremesa, finalizamos com o “Brownie Épico”. Percebi que o Jamie’s Italian é melhor com os nomes que cria do que com os pratos que faz. O brownie é servido com calda de chocolate e sorvete de caramelo com flor de sal (R$ 22). O brownie está longe de ser o melhor do mundo, mas com aquele monte de calda de chocolate até que salva. O problema é a qualidade do sorvete, que é ruim. Não dá para sentir o gosto do caramelo, só o do sal.  Outro que ficou no prato. O sorvete de limão – aquele que derreteu bem depressa – também tinha um gosto absurdamente artificial (duas bolas, R$ 18).

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Cardápio do Jamie’s Italian Brasil

Se o Jamie’s Italian faz sucesso em Londres por causa de seus preços razoáveis, não dá para cravar a mesma estratégia em São Paulo. Uma refeição com entrada, prato principal (massa) e sobremesa chega fácil aos 100 reais por cabeça. O paulistano adora uma novidade, mas não aceita desaforo. A Pizza Hut não me deixa mentir.