O Cine Belas Artes, que desligou seus projetores em março passado, está com cara de prédio abandonado. A fachada do antigo cinema da Rua da Consolação está toda pichada. Algumas lâmpadas que ficam do lado de fora estão penduradas apenas pelos fios. Nem o letreiro escapou (veja na foto abaixo). Pessoas que trabalham por ali aproveitam o espaço abandonado para fumar na hora do almoço. Há também curiosos que espiam pelos vidros empoeirados, cobertos com plásticos e jornais velhos. “Estava só de passagem, mas parei para lamentar um pouco”, disse o músico Renato Vidal, em referência à perda do cinema. Mas o que vai funcionar no espaço abandonado? O imóvel não tem sinais de reforma, mas já teria um novo inquilino. Há um funcionário trabalhando no local como segurança. “É para não ficar abandonado”, explicou ele, que não quis se identificar. O segurança conta que foi contratado pela empresa que alugou o imóvel. Perguntado sobre o nome dessa empresa, ele responde apenas: “Aí não posso dizer porque me complica, né?”. Fábio Luchesi Filho, advogado do proprietário do imóvel, Flávio Maluf, nega que o lugar tenha um novo inquilino. Segundo ele, não há nenhuma novidade sobre o caso. O cineasta Andre Sturm, antigo dono do Belas Artes, não se conforma ainda com o fim do cinema: “Acho uma catástrofe que aquele imóvel vire qualquer outra coisa que não seja um cinema, independente do tipo de atividade”.
O Belas Artes não é o único cinema abandonado na cidade. Inaugurado em 1953 com uma sala de exibição com capacidade para 1.870 pessoas, o Marrocos, da Rua Conselheiro Crispiniano, no Centro, encerrou suas atividades em 1997. Em 2005, o endereço chegou a ser sondado pela Cinemark, que queria tranformar o espaço em um cinema multiplex, com cinco salas e som digital. Não deu certo. Na época, o diretor financeiro da Cinemark, Marcelo Bertini, declarou a O Estado de S. Paulo que, para fechar o negócio, faltava apenas “um patrocinador”. Vale lembrar que o Marrocos é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) desde 2009, o que impede que a arquitetura do imóvel sofra qualquer tipo de alteração. Hoje, o antigo Marrocos faz parte de um projeto da Secretaria Municipal de Cultura de restauração de cinemas antigos. A Prefeitura pretende transformar o local em um “teatro para concertos e peças”, como informou a secretaria em nota.
Outros dois cinemas fazem parte do projeto. Um deles é o Ipiranga, localizado na avenida de mesmo nome, também no centro. O cinema foi inaugurado em 1943, e era administrado pela empresa Alvorada. Em 2005, encerrou suas atividades sem que a razão fosse revelada. A Prefeitura agora pretende revitalizar o espaço, também tombado pelo Conpresp em 2009, mantendo sua função de cinema. O espaço tem capacidade para 1,5 mil pessoas, com projeto original para apenas uma sala. O terceiro cinema do projeto da Secretaria de Cultura é o Art Palácio, na Avenida São João, que fica ao lado da Galeria do Rock. Inaugurado em 1936, o Art Palácio era o cinema em que o ator e diretor Mazzaropi costumava lançar todos os seus filmes, sempre no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo. A decadência começou nos anos 80, quando o cinema passou a exibir filmes pornográficos. Agora, a intenção da prefeitura é transformar o local em um teatro musical.
Ainda não há previsão para o início das obras de restauração dos cinemas, e também não foi calculado o custo do projeto. Segundo a nota da secretaria, “a desapropriação está em andamento. Por esse motivo, ainda não é possível precisar o investimento total na recuperação de cada um deles”.
(Com colaboração de Karina Trevizan)
Conheci todas essas salas e muitas outras que marcaram minha juventude, tais como o Paissandú, Ouro e Coral . De todas essas salas, o Cine Marrocos era o mais exuberante de todos.
Super elegante, poltronas reclináveis, salas de espera luxuosíssimas, obrigatoriedade no uso de gravatas por parte dos homens, eram algumas das características desse belíssimo cinema.
Seria maravilhoso se ele pudesse ser devolvido à população.
Progresso que contamina o presente destrói o futuro e enterra o passado.Os tempos de gloria só nas lembranças pq o visual deixara de existir.
perda abominável a do belas artes e demais salas de cinema de rua mas não percamos tempo lamentando vamos criar nosso próprio espaço, outros lugares inesquecíveis outras memórias outros encontros.