Os vigilantes do Solar da Marquesa de Santos, no centro de São Paulo, já se especializaram consolar os visitantes que chegam e se frustam ao encontrar qualquer referência à proprietária da casa entre 1834 e 1867. O casarão da rua Roberto Símonsen despediu-se das mobílias, utensílios domésticos e até mesmo da banheira utilizada por Domitila de Castro Canto e Melo, no final de abril passado, com o encerramento da exposição “A Marquesa de Santos: Uma Mulher, Um Tempo, Um Lugar”. Os vigilantes repetem que “os objetos expostos voltaram para seus museus de origem” – a saber: Museu Histórico Nacional (RJ), Museu de Arte Sacra (SP), Museu da Casa Brasileira (SP) e Museu do Ipiranga (SP). Sem os objetos históricos, o solar do século XVIII foi ocupado por duas exposições fotográficas – Bailes do Brasil e Paisagem desaparecida.
Depois de um longo período de obras e restauro, o solar foi reinaugurado em novembro de 2011 com a exposição que teve a curadoria da historiadora Heloísa Barbuy. “O Museu da Cidade solicitou, por empréstimo, peças de diferentes museus, além de incluir outras de seu próprio acervo”, explica. “A exposição era de caráter temporário e permaneceu em cartaz até abril deste ano, quando as peças foram devolvidas aos emprestadores”. Heloísa lembra que a desmontagem para abrir espaço para novas exposições é algo absolutamente normal (“tal como ocorre em qualquer museu”). Mas também é natural que visitantes brasileiros e estrangeiros procurem por algo sobre a história de Domitila e do imperador quando chegam ao Solar da Marquesa de Santos.
A figura de Domitila é sempre lembrada como a principal amante do imperador D. Pedro I. Mas a história vai muito além disso.“Foram apenas sete anos com Dom Pedro, mas ela sempre esteve ligada a esse rótulo de ‘amante’. Ela é uma personagem muito mais plural do que isso”, explica o pesquisador Paulo Rezzutti, membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e autor da biografia “Domitila: a verdadeira história da Marquesa de Santos”. “Quando ela se mudou para o casarão, D. Pedro já estava morto”, complementa. Para Paulo, o Museu da Cidade errou ao não conservar, com o final da exposição, ao menos uma sala dedicada a ela.
Procurado pela reportagem do São Paulo para Curiosos, José Henrique Siqueira, diretor do Museu da Cidade de São Paulo, disse que essa sala está inaugurada na próxima terça-feira, dia 1º de setembro, na abertura das comemorações da Semana da Independência. O espaço abrigará alguns dos objetos que já estavam expostos nos últimos quatro anos e que foram selecionados pela curadoria antes da devolução a seus respectivos donos. Houve um acordo entre as instituições que acabaram por ceder as peças escolhidas.

A exposição “A Marquesa de Santos: Uma Mulher, Um Tempo, Um Lugar” tinha mobília, utensílios domésticos e até mesmo uma banheira utilizada por Domitila
“O programa curatorial do Solar da Marquesa prevê no primeiro andar – o espaço mais preservado da antiga arquitetura, composto por os três salões frontais e salas laterais -, exposições de cunho histórico sincronizadas com a memória da cidade”, afirma Henrique. “Também integrado ao programa, haverá reflexões sobre a memória do próprio espaço, motivo pelo qual, depois da desmontagem da exposição ‘A Marquesa de Santos’, está sendo organizada uma sala dedicada à Domitila”. Pena que os funcionários não tivessem esta informação até a semana passada para avisar quem perguntava sobre os objetos históricos. Mas o que importa é esta boa notícia que chega agora.
Foram devolvidos para o Museu Histórico Nacional uma máquina de costura e pratos decorativos da marquesa, peças que agora estão expostos no museu de origem. Em compensação, o MHN renovou o empréstimo de 51 outros itens, como um broche colorido com retrato da Marquesa de Santos em metal dourado; um pingente em formato de coração com pedra azul e o brasão da Marquesa de Santos; uma cômoda de origem francesa em madeira datada do início dos anos 1800, talheres e pinturas.
Aproveitando que o Museu Paulista (ou Museu do Ipiranga) está fechado para reforma, o Museu da Cidade também fez oito pedidos de renovação de empréstimo. Os objetos são um retrato a óleo da Marquesa de Santos; um retrato do político e militar Rafael Tobias de Aguiar, marido dela; um leito e o estrado do leito; uma vitrine oval; um pente; e duas cadeiras de braços de palinha.
O Museu de Arte Sacra pediu de volta uma santa e um oratório do século XVIII. Mas uma cadeira ficará no Solar da Marquesa. Por fim, o faqueiro de Domitila, que havia sido emprestado pelo Museu da Casa Brasileira, retornou e agora faz parte de uma exposição do local, que fica na Avenida Brigadeiro Faria Lima.
Serviço
Solar ds Marquesa de Santos
R. Roberto Simonsen, 136, Centro
Tel. 3105-1369
Terça a domingo, 9h/17h
Entrada grátis
Já que o Museu Paulista, no bairro do Ipiranga está fechado, a USP deveria deixar as obras expostas no Solar.
onde foi parar a exposição? fui lá no dia 08/09/2017 e não encontrei nada.